21 out, 2024 - 17:51 • Lusa
O candidato presidencial Venâncio Mondlane acusou esta segunda-feira as forças policiais de dispararem "balas verdadeiras" contra manifestantes durante as marchas por si convocadas e afirmou que os moçambicanos juntaram-se para "salvar o país".
"A polícia fez uma coisa incrível que foi usar balas verdadeiras, temos vídeos que mostram projéteis de armas pesadas, vídeos em que são usados jovens do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) a disparar na via pública, de dia. Que vergonha, isto é um Governo terrorista", acusou Venâncio Mondlane, numa declaração pública feita na sua rede social Facebook. "Isto é que é o verdadeiro terrorismo contra o seu povo, genocídio contra seu próprio povo, disparar contra jovens indefesos, desarmados, que não têm capacidade nenhuma de poder reagir, sem criar nenhum distúrbio", acrescentou Mondlane, numa declaração em que acusa a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, de perder no "debate de ideias".
A capital moçambicana foi palco de confrontos entre manifestantes, que atiram pedras e incendiaram pneus nas ruas perto da Avenida Joaquim Chissano, e a polícia, que está a dispersar os populares com recurso a gás lacrimogéneo e tiros para o ar.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), voltou a acusar as Forças de Defesa e Segurança de "verdadeiros terroristas", que usaram o "seu equipamento para reprimir um povo indefeso".
"Um povo desarmado, que só quer manifestar direitos fundamentais. Até helicóptero a polícia utilizou para reprimir a juventude (...) A dar uma entrevista, a polícia chegou a ponto de disparar contra nós, fui atingido com uma cápsula de gás lacrimogéneo", disse. "A polícia disparou contra jornalistas nacionais e internacionais", acrescentou, em acusações ao partido Frelimo, que descreveu como "um búfalo ferido".
Não obstante os incidentes envolvendo os manifestantes e a polícia, Venâncio Mondlane afirmou que os moçambicanos "fizeram algo histórico", referindo que se cumpriu o objetivo de paralisar o país. "Um candidato de um partido ainda extraparlamentar conseguiu, com muito sucesso, anunciar uma greve nacional e de facto o país ficou paralisado, 95% da atividade laboral, privada e pública, ao nível do país, ficou paralisada", destacou, referindo que o ato representa união "por um objetivo".
"Digo parabéns porque a consciência está a mudar. Estive a ver imagens (...), os moçambicanos juntaram-se para salvar o país", concluiu.
Cerca das 10h00 locais (09:00 em Lisboa), a polícia dispersou a manifestação no centro de Maputo convocada por Mondlane repudiando o homicídio de dois apoiantes, carregando sobre dezenas de pessoas que se concentraram no local, que responderam com o arremesso de pedras e com o lançamento de artefactos pirotécnicos.
Os confrontos entre a polícia e os manifestantes começaram cerca das 7h30, com a força policial a dispersar os grupos que se começavam a juntar para participarem nas marchas pacíficas.
A polícia também a recorreu a elementos com cães e um helicóptero tem estado a sobrevoar a baixa altitude as zonas onde as pessoas tentam manifestar-se. A polícia moçambicana confirmou no sábado, à Lusa, que a viatura em que seguiam Elvino Dias, advogado de Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que apoia Mondlane, mortos a tiro, foi "emboscada".
O crime aconteceu na avenida Joaquim Chissano, centro da capital, e segundo a polícia uma mulher que seguia nos bancos traseiros da viatura foi igualmente atingida a tiro, tendo sido transportada para o hospital. As eleições gerais de 09 de outubro incluíram as sétimas presidenciais em simultâneo com legislativas e para assembleias e governadores provinciais.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) tem 15 dias para anunciar os resultados oficiais, data que se cumpre em 24 de outubro, cabendo depois ao Conselho Constitucional a proclamação dos resultados, após concluir a análise, também, de eventuais recursos, mas sem prazo definido para esse efeito.