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Trump e a Casa Branca

03 abr, 2023 - 07:01

Os processos judiciais podem convir a Trump, para mobilizar os seus apoiantes. Ele e Bolsonaro insistem que ganharam as eleições que de facto perderam. Mas a democracia perde sentido se quem perde uma votação diz que ganhou. E Ron DeSantis já mostrou não ser melhor do que Trump.

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Como foi largamente noticiado, na história americana Trump é o primeiro ex-presidente a ser acusado criminalmente. Sobre Trump pendem vários outros processos, de ordem fiscal, comercial, política, etc. Ele alega que tudo não passa de perseguição política, de uma “caça às bruxas”. Do lado contrário, diz-se que Trump apressou a sua campanha para ser escolhido como candidato presidencial pelo partido republicano para atrasar determinados processos judiciais incómodos. Pelos vistos, pelo menos no sórdido caso envolvendo uma atriz porno não conseguiu.

Mas não é de excluir que os processos judiciais ajudem Trump a mobilizar os seus apoiantes. O ideólogo da direita radical Steve Bannon, em recente entrevista divulgada pelo Público, não tem dúvidas: os processos que têm como alvo Trump e Bolsonaro apenas fortalecem os acusados, afirma ele.

O mais curioso é o argumento que o ideólogo usa para tentar provar essa afirmação. “Trump não perdeu em 2020 e Bolsonaro certamente não perdeu no Brasil”, garante S. Bannon. Ou seja, também ele, como muitos políticos do partido republicano, repetem a mentira segundo a qual houve fraude eleitoral na vitória de J. Biden. Mentira porque dezenas de entidades partidariamente independentes, incluindo tribunais, certificaram aquela vitória.

É extraordinário como Trump levou dezenas de políticos republicanos a manterem a mentira desde há três anos. Não diz bem da coragem e da integridade desses políticos. Já o vice-presidente de Trump, Mike Pence, certificou a vitória de J. Biden, apesar da invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, para impedir tal certificação. O que tem valido a Pence os piores insultos de Trump.

Há quem queira “normalizar” Trump. Isto é, querem encarar o personagem como um político normal. Só que não é normal, em democracia, apenas aceitar os resultados das votações quando se ganha. Trump e Bolsonaro nunca reconhecem que perderam. Logo, a votação democrática perde sentido.

Por isso julgo ser realista dizer que, no fundo, estes políticos da direita radical não apreciam a democracia e anseiam por instalar uma qualquer ditadura. Agora não lhes convém confessar esse desígnio, claro.

Mas não terá o partido republicano melhores candidatos à Casa Branca? Durante algum tempo pensou-se que o governador da Florida, Ron DeSantis, poderia ser o candidato presidencial republicano; um “trumpista” que não é Trump. Mas várias declarações dele obrigam a pensar duas vezes. Por exemplo, DeSantis considera que a guerra da Ucrânia é uma mera “disputa territorial”, ignorando a invasão russa. E diz que a Ucrânia não é um interesse vital dos EUA. Uma vitória do governador da Florida nas eleições presidenciais de novembro de 2024, como aliás de Trump, entregaria a Ucrânia a Putin. O atual “czar” da Rússia sempre agradou à direita radical.

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