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"Mafra dialogues". Santa Sé reitera solução de dois Estados na Terra Santa

02 mai, 2024 - 17:49 • Aura Miguel

Numa mensagem enviada ao encontro "Mafra dialogues". o secretário de Estado do Vaticano defende um cessar-fogo imediato em Gaza.

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A Santa Sé insiste num cessar-fogo imediato, entre Israel e a Palestina, para que a população da Faixa de Gaza receba ajuda humanitária e os reféns israelitas possam ser libertados imediatamente. A posição do Papa foi reiterada esta quinta-feira numa mensagem enviada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, para a inauguração da 4ª edição do encontro internacional "Mafra dialogues", sobre “diálogo e paz no atual contexto mundial.

Parolin lamentou que, “durante demasiados anos, a questão palestiniana não tenha sido abordada com a coragem de implementar a solução dos dois Estados que a Santa Sé sempre reiterou” e defendeu que “Jerusalém, cidade santa não só para os cristãos, mas também para os judeus e muçulmanos, deve ser um lugar de encontro entre as diferentes religiões, protegido por um estatuto especial com garantia internacional”.

Ao considerar o atual contexto de guerra, a Santa Sé reconhece no entanto que, para se avançar num debate sério e construtivo, “é preciso esperar que se passe do ódio e daquela falsa ideia de vitória, que resulta da aniquilação do inimigo e passar à verdade, bem mais sensata e bíblica, do diálogo e da paz”.

A importância do diálogo sociopolítico e inter-religioso, da educação e, sobretudo, do respeito pelo direito humanitário, como “único caminho para a tutela da dignidade humana em situações de conflito”, foram também destacados por Parolin, que citou o próprio Papa para lamentar o “enfraquecimento” das estruturas da diplomacia multilateral criadas após a Segunda Guerra Mundial para promover a segurança e a cooperação.

“Atualmente, estas estruturas já não conseguem unir todos os seus membros à volta duma mesa, porque existe o risco de fragmentação em ’clubes’ aos quais pertencem apenas os Estados considerados ideologicamente próximos”. A Santa Sé sublinha assim que, “para alcançar a paz, não basta eliminar os instrumentos bélicos e promover um sistema de segurança internacional, é necessário erradicar as causas profundas das guerras: em primeiro lugar a fome, depois a exploração abusiva dos recursos naturais e, relacionada com esta, a exploração das pessoas”. E, neste percurso incontornável de diálogo político e social, a Santa Sé aposta no diálogo inter-religioso, na proteção da liberdade religiosa, no respeito pelas minorias e na educação, “que é o principal investimento no futuro e nas jovens gerações”.

O cardeal Parolin aproveitou para recordar a Jornada Mundial da Juventude que se realizou em Lisboa e que o próprio Papa definiu como ”um grande hino à paz”, em que o testemunho de mais de um milhão de jovens revelou que “a unidade é superior ao conflito” e que “é possível desenvolver uma comunhão nas diferenças”.

O secretário de Estado do Vaticano também partilhou algumas considerações sobre problemas internacionais, nomeadamente, as atuais tensões no Oceano Índico e no Mar do Sul da China, a importância de soluções a nível local para enfrentar desafios globais e destacou alguns casos bem-sucedidos de diálogo inter-religioso em África, como tem acontecido na Costa do Marfim, no Senegal, no Benim e na República Centro-africana.

A mensagem do Secretário de Estado do Vaticano foi lida pelo núncio apostólico em Portugal, D. Ivo Scapolo.

A 4ª edição do encontro “Mafra dialogues”, organizado pelo IPDAL, Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas, decorre no Real Edifício de Mafra até amanhã e reúne especialistas em relações internacionais, com o objetivo de “ajudar os políticos e a opinião pública a compreender o valor da diplomacia da paz e da prevenção dos conflitos como instrumentos fundamentais para a defesa da democracia e dos direitos humanos”.

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