27 out, 2022 - 06:15 • João Malheiro
Jair Bolsonaro e Lula da Silva disputam, este domingo, a segunda volta das Presidenciais do Brasil de 2022.
Lula foi o mais votado no primeiro turno, com 48,43% dos votos. Ficou aquém da tão desejada vitória à primeira volta, com Bolsonaro, Presidente que tenta a reeleição, a conseguir 43,20%.
Na política, tal como no futebol, a história dos números não é a chave para um prognóstico 100% acertado do que pode acontecer. Mas na política, mais do que no futebol, o historial ajuda a perceber as probabilidades de cada cenário possível.
Numa campanha próxima e incerta como a do Brasil, o desfecho do domingo eleitoral é ainda mais difícil de prever.
A possibilidade de uma segunda volta em eleições Presidenciais, no Brasil, só começou a partir da aprovação da constituição brasileira de 1988, que terminou o período ditatorial e que define o atual regime da Nova República. A Renascença voltou atrás no tempo para olhar para as nove eleições presidenciais e verificou que só duas - as que elegeram Fernando Henrique Cardoso para os seus dois mandatos presidenciais - é que não acabaram em segunda volta.
E nessas sete ocasiões em que o Brasil teve de ir às urnas por duas vezes para escolher um chefe de Estado, o vencedor da primeira volta nunca perdeu à segunda.
eleições do brasil
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A primeira eleição com a nova constituição teve lugar em 1989. À primeira volta, Fernando Collor do Movimento Brasil Novo obteve 30,47% dos votos, enquanto Lula da Silva - sim, já andava por lá - ficou-se pelos 17,18%. A vantagem considerável entre primeiro e segundo lugares não impediu segunda volta, visto que havia, ainda, mais 20 candidatos a dividir os restantes votos entre si. À segunda volta, Fernando Collor foi eleito por 53,03% dos votos, tendo Lula obitdo 46,97%.
Depois das vitórias decisivas no primeiro turno de Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998, o Brasil só foi chamado a uma segunda volta em 2002. No sufrágio inicial, Lula da Silva tinha recebido 46,44% dos votos, enquanto José Serra, que representava a coligação Grande Aliança, ficava-se pelos 23,19%. Na segunda parte da eleição, Lula recebeu 61,27% dos votos, enquanto José Serra só conseguiu 38,72%.
Na recandidatura, em 2006, Lula da Silva recebeu 48,61% e o seu principal rival, Geraldo Alckmin, pela coligação "Por um Brasil Decente" obteve 41,64%. Na segunda volta, Lula vence com 60,83% dos votos, face aos 39,17% de Alckmin.
Nas eleições em que foi vitorioso, Lula teve o maior aumento percentual de um turno para o outro, em 2002, de 46,44% para 61,27%, e também segura, até hoje, o recorde de maior número de votos conseguidos por um candidato presidencial, com 58.296.042 de votos, em 2006, na segunda volta.
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Com o fim da presidência de Lula, foi Dilma Rousseff, apoiada pela coligação "Para o Brasil seguir mudando" a obter 46,91%, na primeira volta, em 2010, seguida pelo repetente José Serra, em segundo lugar, com 32,61% dos votos. Na segunda volta, Dilma venceu com 56,05% dos votos, face aos 43,95% de José Serra.
Em 2014, na sua reeleição, Dilma teve a segunda vitória à primeira volta, em termos percentuais, com 41,59%. Em segundo ficou Aécio Neves, com 33,55%. No segundo turno da eleição, Dilma obteve 51,64% - a margem mais curta de um vencedor da segunda volta - enquanto Aécio Neves recebeu 48,36%.
Jair Bolsonaro entra em cena em 2018, ganhando o primeiro turno das presidenciais com 46,03%. Já Fernando Haddad obteve 29,28%. Na segunda volta, Bolsonaro alcançou 55,13% dos votos e Fernando Haddad só recebeu 44,87%.
Chega-se então ao atual ato eleitoral, em 2022, em que na primeira volta Lula da Silva recebe 48,43% dos votos. Bolsonaro fica com 43,20% e consegue levar as eleições a um segundo turno que parece incerto.
Se Lula tem recordes muito favoráveis no que toca ao crescimento nos segundos turnos eleitorais, a verdade é que Bolsonaro foi o segundo lugar de uma eleição presidencial que mais votos recebeu na primeira volta. O Presidente brasileiro parte ainda para esta segunda parte do ato eleitoral com a maior percentagem de votos de um candidato que não alcançou o primeiro lugar.
Apesar do resultado ser ainda incerto, quase garantido está um novo recorde de votos absolutos para o vencedor do sufrágio deste domingo. Lula da Silva obteve, à primeira volta, 57.259.504, enquanto Bolsonaro teve os já referidos históricos 51.072.345 para um segundo lugar. Até hoje, o vencedor das eleições presidenciais do Brasil, teve sempre mais votos absolutos na segunda volta, em relação ao primeiro turno.