06 jun, 2022 - 19:57 • André Rodrigues
No 103.º dia da guerra na Ucrânia, Mariupol voltou a ser notícia. Terminada a ofensiva russa na cidade costeira e garantido o controlo total, o porta-voz do presidente da câmara avançou esta segunda-feira com a indicação de que a cidade portuária estaria a ser isolada pelo exército russo devido a um surto de cólera.
Os cadáveres acumulam-se nos escombros da cidade totalmente destruída e nas morgues improvisadas em centros comerciais.
“O mais difícil na cidade é disfarçar o odor”, descreve Petro Andriushchenko através de um vídeo publicado no Telegram.
Há “aterros sanitários no centro da cidade, morgues nos centros comerciais e cadáveres debaixo dos escombros. (…) A cada dia que passa o calor aumenta, e [os cadáveres] aumentam o odor, com cada vez mais moscas”.
O Presidente ucraniano voltou a sair de Kiev para visitar os soldados que combatem na frente leste, para travar o avanço russo no Donbass.
Volodymyr Zelenskiy passou por Lysychansk e Soledar e disse estar “orgulhoso de todas as pessoas” que teve a oportunidade de conhecer e de cumprimentar.
Do exterior continuam a chegar promessas de apoio militar a Kiev. Esta segunda-feira, Boris Johnson assegurou ao Presidente ucraniano um novo pacote de ajuda na área da Defesa, depois de os EUA terem anunciado o envio de mísseis de longo alcance.
A resposta de Moscovo não se fez esperar. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov prometeu reagir.
“Quanto maior o alcance das armas que o Ocidente fornecer, maior será o avanço russo sobre a linha através da qual os neonazis podem ameaçar a Federação Russa”, disse Lavrov à BBC.
Sergei Lavrov foi, também, protagonista de mais um episódio tenso na frente diplomática. Depois de os países NATO vizinhos da Sérvia terem recusado abrir um corredor aéreo para o chefe da diplomacia de Moscovo, Lavrov disse que “o inconcebível aconteceu” e o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, classificou esta ação como um ato hostil capaz de “causar certos problemas”.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, rejeitou hoje nas Nações Unidas a impunidade para os crimes de guerra "vergonhosos" cometidos pela Rússia na Ucrânia e defendeu que a "propaganda russa" tem de acabar.
Numa declaração perante o Conselho de Segurança da ONU, que se reuniu hoje para abordar a violência sexual e o tráfico de seres humanos no contexto da guerra na Ucrânia, Michel dirigiu-se diretamente ao embaixador russo junto das Nações Unidas, Vasily Nebenzya, acusando o Kremlin de travar as exportações de comida para os países em desenvolvimento.
"No momento em que falo, foram divulgados relatos sobre o uso de violência sexual por tropas russas como arma de guerra.
A violência sexual é um crime de guerra, é um crime contra humanidade.
Tratam-se de atos vergonhosos, uma guerra vergonhosa", disse o presidente do Conselho Europeu.