01 mar, 2022 - 08:16 • Lusa
As redes sociais podem servir para detetar comportamentos que antecedem a morte súbita em pessoas com epilepsia, constituindo um alerta para prevenir estas situações, concluiu um estudo de várias instituições científicas divulgado esta terça-feira.
"Os resultados do estudo, publicados na revista Epilepsy & Behavior, revelam que a atividade de pacientes com epilepsia nas redes sociais aumentou antes da sua morte súbita", adiantou o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), uma das instituições envolvidas nesta investigação, em conjunto com a Binghamton University (State University de Nova Iorque) e a Indiana University.
A morte súbita inesperada em pacientes com epilepsia (SUDEP – "sudden unexpected death in epilepsy") é considerada a principal causa de morte em pessoas com convulsões epiléticas não controladas e ocorre sem que seja encontrada uma causa.
Segundo o IGC, apesar de se desconhecerem os mecanismos fisiológicos da SUDEP, sabe-se que as convulsões frequentes são um fator de risco importante, sendo o controlo dessas convulsões através de medicação uma das formas de prevenção.
"A alteração de comportamentos, como a redução do stress e a minimização de outros fatores de risco, é também essencial para diminuir o risco de convulsões e de SUDEP", adiantou a Gulbenkian Ciência, justificando que a motivação para o estudo passou por medir os estados emocionais através de um algoritmo.
A partir desse pressuposto, os investigadores exploraram a viabilidade de utilizar as redes sociais para identificar padrões de comportamento que pudessem prever a SUDEP.
O estudo analisou as cronologias do Facebook de seis doentes com epilepsia que morreram por SUDEP e utilizaram várias ferramentas para decifrar as emoções e quaisquer marcadores de stress escondidos nas suas publicações escritas, adiantou o instituto em comunicado.
"A primeira coisa que tentámos perceber foi simplesmente se a quantidade de texto aumentava na plataforma imediatamente antes da sua morte. Foi isso que aconteceu", explicou Rion Brattig Correia, primeiro coautor do estudo e investigador do IGC e da Binghamton University.
Para além disso, o tipo de palavras usadas mudou e foram identificadas flutuações drásticas de sentimentos nas publicações nesta rede social nas semanas anteriores à sua morte.
"Encontrámos alterações significativas no comportamento digital dos pacientes que foram detetadas como sinais pelos nossos algoritmos", nota Ian Wood, investigador da Indiana University e coautor do estudo.
Este trabalho de investigação envolveu cientistas das áreas da informática e dos sistemas complexos, investigadores clínicos e do comportamento na área da epilepsia e que contou com o apoio da Epilepsy Foundation of America.
No futuro, os autores pretendem validar o poder preditivo destes dados comportamentais extraídos das redes sociais em estudos clínicos que envolvam mais pessoas e mais dados.