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Jornalistas portugueses da televisão de Macau avisados para não publicarem notícias contrárias ao governo chinês

11 mar, 2021 - 17:00 • João Carlos Malta com Lusa

O incumprimento destas normas resultará em despedimento com justa causa. Aos jornalistas foi pedido para promoverem o patriotismo e o amor à pátria.

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Os jornalistas portugueses da TDM, canal de televisão de Macau, foram chamados na quarta-feira, para uma reunião com a direção de informação onde lhes terá sido pedido para promoverem o patriotismo e para não divulgarem informações ou opiniões contrárias às políticas do governo central da China. A notícia é dada pelo jornal "Ponto Final", diário em língua portuguesa da região que foi administrada por Portugal até 1999.

O mesmo jornal garante que a comissão executiva da TDM informou que o incumprimento destas normas resultará em despedimento com justa causa.

Aos jornalistas dos serviços em Português da rádio e de televisão foi transmitido, oralmente, para promoverem o patriotismo e o amor à pátria, assim como não deverão divulgar informação ou opiniões contrárias às políticas do Governo Central. Foi-lhes ainda pedido que apoiem as medidas adotadas pelo Governo daquela região administrativa especial chinesa (RAEM).

Os cerca de 40 jornalistas de língua portuguesa e inglesa foram notificados para comparecer na quarta-feira de manhã para uma reunião com a direção de informação.

Na mesma reunião, segundo o "Ponto Final", foi enfatizado que a TDM é um órgão de divulgação de informação do Governo Central e da RAEM e que a estação deve divulgar as políticas do Executivo local expressas nas Linhas de Acção Governativa (LAG).

Um jornalista da Teledifusão de Macau (TDM), que pediu para não ser identificado, disse hoje à Lusa que pelo menos um editor já colocou o lugar à disposição.

Ainda segundo o "Ponto Final", os jornalistas foram informados de que a TDM deve divulgar o princípio “Um Centro, Uma Plataforma, Uma Base”, o significado da ligação entre as culturas chinesas e ocidentais e aprofundar a divulgação e a promoção das relações da China com os países de língua portuguesa.

A Lusa tentou hoje obter esclarecimentos junto da comissão executiva da TDM, mas ainda não obteve resposta.

Deputado pró-democracia protesta

O deputado pró-democracia Sulu Sou criticou esta iniciativa da administração da TDM. “As mãos das autoridades já esperavam chegar ao mundo português e inglês como [fizeram com] os meios de comunicação chineses há cerca de 8/10 anos”, criticou.

O mais jovem deputado de Macau, de 29 anos, disse ainda que, apesar de a Teledifusão de Macau (TDM) receber dinheiro público, o “Governo deve respeitar altamente o profissionalismo e a autonomia dos meios de comunicação”.

A Teledifusão de Macau assegura o serviço público no território, cuja língua portuguesa também é a oficial, conta com canais de televisão em português, inglês e chinês e ainda com rádio em língua portuguesa e chinesa.

Tal como foi defendido na Assembleia Nacional Popular chinesa, na semana passada, e apoiado publicamente pelo poder executivo de Macau, a carta que foi lida aos jornalistas aponta ainda que a TDM apoia o princípio fundamental de que a Região Administrativa Especial de Hong Kong é governada por patriotas.

Em duas entrevistas consecutivas no início da semana, a primeira à televisão estatal chinesa, CCTV, e a segunda à China News Service, a segunda maior agência de notícias estatal da China, a tónica do discurso do chefe do Governo, Ho Iat Seng, foi a garantia do patriotismo em Macau, ensinado desde a infância, e que a base da educação no território e em Hong Kong tem de ser patriota para não ser influenciada pelo estrangeiro.

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