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ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS EUA

Embaixador António Monteiro: "Uma vitória de Trump não será uma grande surpresa"

04 nov, 2020 - 11:45 • Olímpia Mairos , Miguel Coelho

António Monteiro, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e embaixador de Portugal na ONU, considera, em entrevista à Renascença, que o importante é que ganhe a América. E, a seguir, que “o mundo ganhe com uma atitude mais tranquila do poder em Washington”.

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Donald Trump reclama vitória e anuncia que vai para o Supremo. Joe Biden mostra-se confiante. Em entrevista à Renascença, António Monteiro, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, afirma que é preciso esperar a contagem de todos os votos para se saber quem é o vencedor.

António Monteiro que foi embaixador de Portugal na ONU e durante muitos anos viveu nos Estados Unidos, defende, independentemente do resultado, uma mudança nas relações entre a Europa e os Estados Unidos.

Tendo em conta o andamento da contagem de votos nos Estados Unidos, para onde é que se inclina a vitória, na sua opinião?

É muito difícil prever, nesta altura. O voto está muito indeciso em estados fundamentais e é evidente, por exemplo, que, se Trump vencer a Pensilvânia, toda a gente se inclinará a considerar que Trump será eleito. Se não fizer, Biden tem uma forte hipótese.

Será uma grande surpresa Trump ser reeleito, tendo em conta o que foi dito ao longo dos últimos meses?

Em parte, sim. Não digo que seja uma grande surpresa, porque era admissível e toda a gente previa que fosse possível. Mas, durante a campanha que vinha a ser feita, aliás, por todo o lado, praticamente o apoio, diria quase universal, de que os democratas e Joe Biden contavam, é um bocado surpresa esta resistência de Trump e esta possibilidade de ele estar na linha da frente para ganhar a eleição.

Como é que interpreta a primeira declaração ao país de Donald Trump, a falar em fraude eleitoral e no recurso ao Supremo Tribunal e que risco é que pode ter num clima de tão grande tensão como o que se vive nos Estados Unidos?

Eu acho que pode ser um risco grande. O primeiro ponto é que isto é tipicamente o estilo Trump, de aparecer. Antes de qualquer outro, ele próprio já afirma a própria vitória, a mostrar a confiança que tem. Portanto, isto é uma questão de estilo. Por outro lado, o que é importante para os Estados Unidos e, creio, para todas as democracias, é que haja uma contagem correta de votos. E isso, estou convencido, os americanos podem garantir e não é preciso recorrer já à ameaça de tribunais e outras coisas.

Se a contagem dos votos até ao fim, incluindo dos votos que foram feitos antecipadamente daqueles que vão ser contados agora, a questão dos votos dos militares, a contagem até ao fim de todos os votos em cada estado, mesmo naqueles que já concluíram, já interromperam a votação para só recomeçarem ainda hoje ou possivelmente até por outros dias, se tudo isto for feito de maneira correta, então podemos ter aquela que é a vitória da democracia, uma votação limpa ou quase limpa.

O que Trump está a prever é possivelmente um resultado muito, muito próximo, dependendo da contagem de votos, por vezes até controversa, e em que ele possa alegar que há fraude contra ele. Ele tem vindo a dizer sempre que há uma espécie de complô interno contra ele. Mas eu estou convencido que isso não vai acontecer. E para bem da democracia americana e da democracia do mundo, que a contagem dos votos se faça corretamente e que o vencedor seja o vencedor justo.

Muitos defendem que uma mudança na Casa Branca seria importante para a Europa e para o mundo. Partilha dessa opinião?

Eu defendo e espero que qualquer que seja o resultado, haja uma mudança nas relações entre a Europa e os Estados Unidos e que voltemos a ter a proximidade que sempre gozamos depois da segunda guerra mundial.

Proximidade que é mais fácil com Biden do que com Trump...

Concordo, mas também penso que Trump terá agora outra experiência e que as próprias forças internas o obriguem a olhar mais para o interesse do país do que para interesses partidários ou interesses de grupo. E isso, num caso ou noutro, espero que quem ganhe primeiro seja a América, e a seguir, que o mundo ganhe com uma atitude mais tranquila do poder em Washington e, sobretudo, muito mais aberta ao multilateralismo e àquilo que hoje é uma evidência em todo o mundo. Não há hipótese de nenhum país, incluindo os Estado Unidos, de por si só vencerem alguns dos desafios que nós enfrentamos. Trump, se for eleito, terá isso em consideração. Não tenho dúvidas que Biden, se for eleito, tê-lo-á em consideração e haverá uma mudança.

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