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Grécia

Portuguesa em Moria descreve “cenário pós-apocalíptico” depois de incêndio

09 set, 2020 - 12:44 • Olímpia Mairos

Chamas desabrigaram 13 mil refugiados. Fabiana Faria descreve à Renascença um cenário de destruição total. “Estamos nos últimos segundos antes da bomba detonar”, antecipa.

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“As imagens são horríveis. Todas as tendas e muitas áreas no interior do campo estão destruídas”. Considerado o maior campo de refugiados da Europa, Moria, localizado na ilha grega de Lesbos, foi atingido por vários incêndios esta quarta-feira, obrigando milhares de migrantes a fugir.

“Moria acabou de ser praticamente todo destruído com um incêndio que ainda não se sabe as razões que o provocaram, mas que foi, sem dúvida, fogo posto”, conta à Renascença Fabiana Faria, uma jovem de 23 anos que está na ilha de Lesbos.

Ainda sem informações muito concretas sobre os reais estragos dentro do campo, uma vez que as organizações de ajuda aos refugiados não estão a ter acesso ao campo, esta portuguesa fala de um cenário de partir o coração.

“É um cenário quase pós-apocalíptico, onde só se vê cinza e aparece tudo queimado, pessoas desesperadas, papeis queimados, brinquedos queimados. É um cenário que é muito difícil de acreditar”, descreve a jovem, membro da Fenix Humanitarian Legal Aid, que presta apoio jurídico aos refugiados.

"Moria é uma bomba-relógio"

A jovem não quer acreditar no que está a acontecer a “pessoas que tentaram chegar à Europa à procura de segurança, de mais qualidade de vida e de acesso aos direitos humanos e tenham que passar de novo por este nível de ‘retraumatização’” e defende a “evacuação da ilha”, acrescentando que “há casos de Covid-19 confirmados em Moria”.

“Neste momento temos a população saudável e a população potencialmente infetada todas misturada. E vão chegar ao centro da cidade e vão-se misturar com a população local que tem muitos mais casos confirmados que no campo”, teme.

“Moria 2020 é uma bomba-relógio, aqui estamos nos últimos segundos antes da bomba detonar”, antecipa Fabiana Faria.

De acordo com esta jovem portuguesa, a polícia está a bloquear não só o acesso a Moria, mas também às estradas que são a cinco minutos de Moria, embora alguma população tenha conseguido fugir após a eclosão dos incêndios.

“Neste momento é toda uma extensão entre Moria e o centro da cidade, que as pessoas não alcançaram, em que as pessoas estão a dormir ao relento. Mulheres solteiras, famílias, crianças, bebés, pessoas em cadeiras de rodas, menores desacompanhados, toda a gente está na rua, sem conseguir ter acesso a comida, cobertores, medicação”, descreve.

Fabiana Faria é antropóloga e está a trabalhar na Fenix Humanitarian Legal Aid como caseworker. Face a esta situação de emergência em Moria, deixa o apelo “à doação de fundos às organizações que estão no terreno, para que possam ajudar as pessoas mais vulneráveis”.

Incêndio "não foi acidental"

O Governo grego vai declarar estado de emergência na ilha de Lesbos, na sequência do incêndio no campo de refugiados de Moria, que destruiu praticamente todo o local e deixou cerca de 13.000 desabrigados.

As autoridades decidiram ainda proibir todas as pessoas que viviam em Moria de deixar a ilha para evitar uma possível disseminação do coronavírus que provoca a Covid-19, avançou o porta-voz do Governo, Stelios Petsas.

O incêndio foi detetado depois de ter sido anunciado que 35 pessoas do campo tinham obtido resultado positivo no teste para deteção da infeção da Covid-19 e que iriam ser transferidas para uma área especial de isolamento. Segundo o porta-voz do Governo, o incêndio “não foi acidental”, já que ocorreu imediatamente a seguir a este anúncio e em diferentes partes do campo de refugiados.

O campo está em quarentena há uma semana, depois de ter sido detetado o primeiro caso de Covid-19 num somali de 40 anos que já tinha obtido o estatuto de refugiado e que, em agosto, esteve em Atenas à procura de emprego.

Moria é o maior campo de refugiados da Europa e aquele que tem piores condições, já que alberga cerca de quatro vezes mais pessoas do que a sua capacidade.

Situado na ilha grega de Lesbos, foi alvo de vários incêndios que deflagraram esta madrugada, após confrontos entre os cerca de 13 mil migrantes, segundo as autoridades. Até agora não há informação de vítimas, numa altura em que os bombeiros continuam sem conseguir aceder às tendas e contentores de alojamento.

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  • Ivo Pestana
    09 set, 2020 Funchal 13:26
    A ONU, que ajude esta gente. Existem países com falta de pessoas, poderiam recebê-los com o apoio das Nações Unidas. Os países mediterrânicos, já fazem muito.

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