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Grécia

Incêndio em Moria. Médicos sem Fronteiras pedem transferência imediata de refugiados

09 set, 2020 - 18:49 • Olímpia Mairos

A organização humanitária internacional “está pronta para prestar o apoio necessário durante a resposta de emergência”.

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A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras não tem dúvidas de que o incêndio no maior campo de refugiados da Europa, em Moria, localizado na ilha grega de Lesbos, é uma consequência de “anos de sofrimento humano e da violência produzida pelas políticas de migração europeia e grega”.

“Os quase cinco anos nestas condições só podem levar ao desespero e a tensões”, diz a MSF.

“Com a Covid-19 e as crescentes restrições à população – que está confinada há quase cinco meses, a situação tornou-se insuportável. Não há dúvidas que na base deste incêndio está o resultado de anos do sofrimento humano e da violência produzida pelas políticas de migração europeia e grega”, denuncia a organização humanitária.

Para os Médicos sem Fronteiras, o facto de este incidente ter ocorrido após os primeiros casos de Covid-19 não é surpresa.

“Como MSF, sabemos isso por experiência com outros surtos: se não existir a confiança e a compreensão da população, não se pode controlar um surto”, acrescenta.

“Como podem as autoridades estatais pedir confiança às populações, na implementação das restrições à Covid-19, se mantêm 12.000 pessoas cativas em condições desumanas e lhes dizem que têm de respeitar o distanciamento físico num espaço de 26 KM2 e que têm de fazer fila até para receber um pouco de comida todos os dias?” - questiona a organização humanitária.

De acordo com informação enviada à Renascença, “há semanas que a MSF pressiona as autoridades gregas de saúde e migração a criarem um plano de resposta adequado ao COVID-19 para Moria, que conte com a colaboração das pessoas e que ofereça dignidade aos doentes e aos que estão infetados”. No entanto, sublinha a organização, “as autoridades gregas não conseguiram dar essa resposta, a UE e outros Estados-Membros da UE rejeitaram a responsabilidade e não fizeram quase nada para resolver esta situação”.

“As cinzas de Moria são um testemunho dessa negligência e fracasso”, denuncia a MSF, esperando que “o mesmo sistema de contenção desumano não renasça destas cinzas”.

A MSF exorta “as autoridades gregas a adotarem imediatamente um plano de resposta de emergência e a evacuarem a ilha, retirando todas as pessoas para um local seguro no continente ou noutros países europeus”.

“A MSF está pronta para prestar o apoio necessário durante a resposta de emergência”, assegura a organização humanitária.

“Vimos o êxodo de um inferno em chamas de pessoas sem direção”

Segundo a MSF, “ontem à noite, surgiram motins de refugiados fora de Mandala a protestar contra o local de isolamento. A situação manteve-se tensa e vários incêndios eclodiram em diferentes locais do campo. As brigadas de bombeiros vieram, mas foi impossível controlar o incêndio”.

O coordenador de campo de MSF em Lesbos, Marco Sandrone, refere que as equipas da organização humanitária “viram o fogo propagar-se em Moria e intensificar-se durante a noite. Todo o lugar estava em chamas, vimos o êxodo de um inferno em chamas de pessoas sem direção”, acrescentando que “as crianças estavam assustadas e os pais em choque”.

“Estamos aliviados porque parece não haver vítimas e estamos a trabalhar agora para atender às necessidades imediatas das pessoas”, conta.

Ainda segundo a organização humanitária internacional, “todas as pessoas se dirigiram para a cidade de Mytilini, mas foram bloqueadas logo depois do acampamento de Kara Tepe. Cerca de 12.000 pessoas estão agora na rua, sem lugar para onde ir e muitas começam a esconder-se nas montanhas e a dispersar”.

A MSF alerta também para a existência de 35 casos positivos de Covid-19 entre os refugiados e apela “à transferência imediata de todos para um local seguro no continente ou para outros países europeus”.

A organização humanitária internacional dá nota que a sua clínica pediátrica não foi atingida pelas chamas, adiantando, no entanto, que os “serviços foram temporariamente interrompidos”, encontrando-se a diligenciar esforços “para retomar o mais rapidamente possível”.

As equipas da MSF estão a também avaliar as necessidades imediatas da população de refugiados e estão “em contacto com as autoridades competentes” para ver em como podem apoiar.

“Para nós, a prioridade será encontrar um lugar seguro para todas estas pessoas. Estes homens, mulheres e crianças precisam urgentemente de um espaço seguro. Será impossível levar estas pessoas de volta a Moria. Exortamos as autoridades gregas a implementarem imediatamente um plano de emergência de evacuação. Nós estamos prontos para apoiar com a nossa capacidade médica”, conclui a MSF, em informação enviada à Renascença.

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