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O que é a OMS e como é que Trump a pode destruir

16 abr, 2020 - 17:14 • Dina Soares

O financiamento da OMS tem origem nas contribuições dos seus 194 estados-membros e também nas de mecenas privados e de organizações não governamentais, como a Fundação Bill e Melinda Gates e a Fundação Rockefeller. Os Estados Unidos são o país que paga a maior fatura: entre 10% e 15% do orçamento que provém das quotas.

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Já há alguns anos que a imagem da Organização Mundial de Saúde (OMS) andava um pouco turva devido à lentidão com que reagiu, em 2014, à epidemia de ébola em África. Só que, desde aí, a presidência mudou, a instituição foi alvo de reformas e a sua intervenção na crise da pandemia de covid-19, não sendo isenta de críticas, tem sido bem mais consensual. Só mesmo Donald Trump tem feito uma oposição sem tréguas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi fundada no âmbito das Nações Unidas, em 1948, mas é herdeira do Comité de Higiene criado pela Sociedade das Nações após a I Guerra Mundial. A sua missão consiste em promover a saúde a nível global e proteger a população contra as doenças infeciosas.

Tem também, entre as suas atribuições, promover a assistência médica universal, apoiar a investigação, fornecer ao mundo dados e recomendações técnicas relativamente a ameaças emergentes, como é agora o caso da covid-19. E apesar da grande falta de financiamento, tem tido algum sucesso na expansão dos cuidados básicos de saúde e no apoio à vacinação nos países mais pobres.

O seu financiamento vem das contribuições dos seus 194 estados-membros e também de mecenas privados e de organizações não governamentais, como a Fundação Bill e Melinda Gates e a Fundação Rockefeller. Os Estados Unidos são o país que paga a maior fatura: entre 10% e 15% do orçamento que provém das quotas.

Porque é que Trump está tão zangado com a OMS?

Donald Trump acusa a organização de ter demasiado em conta os interesses da China. O presidente norte-americano defende que a OMS não se preocupou em garantir, desde o início, a transparência das informações fornecidas pelas autoridades chinesas, não alertou o mundo para o risco de transmissão de humano para humano e, de uma forma geral, administrou de forma errada o combate contra a pandemia. “Falhou em toda a linha.”

O jornal britânico "The Guardian" comparou estas acusações com a atuação concreta da OMS e não encontrou pontos de convergência. Concluiu, por exemplo, que as orientações técnicas da OMS, publicadas no início de janeiro, alertavam já para o risco de transmissão entre seres humanos e que a organização declarou o coronavírus como uma emergência de saúde pública de interesse internacional um dia antes de Trump anunciar sua proibição parcial de voos da China. Mas Trump não se deixou intimar pelos factos e, depois de várias ameaças, cortou o financiamento.

A reação da OMS na crise da covid-19 e no surto de ébola de 2014

Em 2014, numa zona remota de floresta da Guiné, onde as fronteiras com Serra Leoa e a Libéria eram praticamente inexistentes, começaram a ser detetados casos de ébola. Na altura, a diretora geral, Margaret Chan, desvalorizou e quando a OMS começou a agir, seis meses depois, já a doença tinha chegado a cidades densamente povoadas.

Este comportamento valeu a Margaret Chan e à OMS uma chuva de críticas. As consequências foram graves e minaram a credibilidade da organização. Já nessa altura, se levantaram nos Estados Unidos vozes a favor da extinção da OMS e da sua substituição por um novo organismo dedicado à saúde pública global. A diretora da OMS ripostou, acusando os estados membros de não atualizarem as suas contribuições há anos, deixando a organização numa situação de sério subfinanciamento.

A maioria dos especialistas ouvidos pelo jornal The Guardian concorda, no entanto, que o atual diretor-geral, o etíope Tedros Adhanom, teve um desempenho muito melhor em relação ao coronavírus do que a sua antecessora em relação ao ébola. Adhanom, que dirige a OMS desde 2017, é uma autoridade em saúde pública, foi ministro da Saúde no seu país com um mandato muito elogiado e é um investigador de renome na área da malária.

Consequências do corte de financiamento dos Estados Unidos

Mesmo antes do anúncio de Trump, a OMS já estava a analisar a possibilidade de cortes na sua programação devido ao subfinanciamento. Esses cortes irão certamente ter impacto em programas agora muito afetados pelo coronavírus, como a vacinação contra doenças transmissíveis e a criação de sistemas de alerta precoce e resiliência para lidar com doenças como o ébola nos países africanos.

A suspensão do financiamento - para já decretada por um período entre 60 e 90 dias - terá um impacto relativamente pequeno, até porque os Estados Unidos estão atrasados nos seus pagamentos anuais. Já uma eventual retirada geral do financiamento norte-americano seria muito sério e teria consequências graves, sobretudo nos países que mais precisam de apoio.

Finalmente, ao atacar a fiabilidade dos dados divulgados pela OMS e os seus sistemas de alerta, Donald Trump está a ameaçar o papel da instituição na diplomacia global da saúde, e a sua intervenção científica e clínica no controlo da propagação de doenças.

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  • rui
    16 abr, 2020 seixal 18:26
    Infelizmente estao a existir casos a nivel mundial de dirigentes (varios paises)que espalham a culpa para todos e mais alguns e, nao veem o que fazem. A culpa e sempre dos outros. Ninguem estava preparado para esta situação mas, admiro tudo o que se fez e esta a fazer em PORTUGAL em bom tempo, coisas que os outros paises ate mais desenvolvidos não o fizeram

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