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Autarca da Beira avisa: "A cólera está à porta" de Moçambique

25 mar, 2019 - 11:34 • Lusa, com Redação

O autarca da cidade mais afetada pela passagem do ciclone Idai conhece bem os primeiros sintomas, e por isso sabe que os mais recentes sintomas podem ser sinal de um surto de cólera.

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Daviz Simango, presidente do município da Beira, no centro de Moçambique, referiu disse esta segunda-feira que há várias mortes registadas com sintomas de cólera, elevando os receios de um surto após o ciclone Idai.

"Estamos à procura de [meios de] diagnóstico, mas nós conhecemos a cólera, conhecemos os sintomas e dinâmica", referiu o autarca acerca de uma doença que é tratável, mas que todos os anos provoca mortes em Moçambique na época das chuvas, disse o presidente do município moçambicano, em entrevista à Lusa.

"Se numa unidade sanitária há seis, sete mortos nas mesmas circunstâncias de diarreia, é um indicativo claro de que a cólera está aí à porta", acrescentou, ao descrever os casos que conhece.

Com a região inundada e sem saneamento básico, a cólera passa para a água e comida, criando-se um ambiente propício à sua propagação.

Depois do pesadelo do ciclone, Daviz Simango teme o pesadelo de um surto de doenças.

"Nos centros de acomodação" para os desalojados, improvisados em escolas, "tem de se colocar tapetes e água desinfetada" para que, quem entra, "não leve a cólera lá para dentro", destacou.

São locais de abrigo que estão apinhados, nalguns casos com centenas de pessoas, facilmente expostas.

"Nos centros de acomodação, as pessoas não vivem em condições humanas", referiu.

A ameaça das doenças

Depois do desastre humanitário provocado pelo ciclone Idai, que segundo o último balanço matou 447 pessoas, o foco das autoridades começa a virar-se para os surtos que podem surgir.

Celso Correia, ministro da Terra e Ambiente de Moçambique, já admitiu esta possibilidade à Renascença: "Já estamos a registar um grande número de diarreias, mas o sistema de saúde está a dar resposta. Vamos ter malária, vamos ter cólera, com certeza”.

"É importante termos consciência de que vamos ter cólera, malária, já temos filária, e vai haver diarreias. O trabalho está a ser feito para mitigar" os surtos, destacou.

A estratégia inclui a instalação de centros de tratamento - habitualmente instalados em zonas de surto para conter e tratar doentes - e distribuição de equipas médicas por todo o território afetado.

As Nações Unidas anunciaram a instalação de campos de abrigo temporário, com tendas e hospitais de campanha, para onde vão ser conduzidas os 89.000 desalojados (um número que tem crescido todos os dias) que estão nos centros de acolhimento improvisados.

Malária, a outra preocupação

Também a malária deve ser uma das maiores preocupações para as autoridades moçambicanas. O alerta é feito pelo diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), Paulo Ferrinho, que considera esta doença a "grande ameaça" à saúde pública em Moçambique.

"A malária é a grande ameaça que podemos esperar em termos de doenças. Outra doença importantíssima é a cólera. Essas duas doenças vêm-nos imediatamente à mente", disse Paulo Ferrinho.

O diretor do IHMT, que falava à agência Lusa, em Lisboa, sublinhou, por outro lado, o impacto das inundações e da passagem do ciclone Idai - que causou 447 mortos e deixou um rastro de destruição - no funcionamento dos serviços de saúde, nas comunicações ou no fornecimento de água potável.

"Isso leva à quebra dos sistemas de prestação de serviços de saúde e de apoio às populações que depois se vai refletir em coisas como a falta de acesso a alimentos, diarreias infantis, falta de acesso das mulheres grávidas a um parto seguro, falta de acesso a locais onde possa haver apoio para recém-nascidos", apontou.

"O colapso do sistema social é talvez a maior tragédia que os moçambicanos vão ter que enfrentar", acrescentou.

Por isso, sustentou, a ajuda humanitária, que nesta primeira fase se destina a satisfazer necessidades imediatas de água, alimentos, cuidados básicos de saúde e tratamento das doenças mais prevalentes, terá que evoluir posteriormente "para a reconstrução do sistema social e de saúde".

"É qualquer coisa que se vai prolongar pelos próximos dois a três anos", estimou.

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