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Luaty Beirão: “Estamos perante um julgamento político"

28 mar, 2016 - 07:05

Em entrevista à Renascença, o activista diz que os angolanos começam a perder o medo e acredita que nada irá travar os ventos da mudança. Dezassete activistas conhecem a sentença esta segunda-feira.

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No dia em que conhece a sentença em Angola, o activista Luaty Beirão declara-se inocente em entrevista à Renascença, mas acredita que será condenado. Luaty e outros 16 activistas angolanos são acusados de actos preparatórios de uma rebelião.

O Ministério Público angolano deixou cair a acusação de que estariam a preparar um atentado contra o Presidente, mas classifica-os como um "conjunto de malfeitores", o que pode valer a Luaty Beirão uma pena de 12 anos na cadeia.

O activista, que já fez greve de fome e está agora em prisão domiciliária, acredita que a sentença será política. “Estamos perante um julgamento político, na nossa opinião e assim sendo, a sentença será política também. Eu e o Domingos podemos estar confrontados com uma martelada que vai ditar 12 anos”, refere à Renascença.

Sem conhecer ainda a sentença, Luaty diz-se “mentalizado” para a condenação. “É ainda imprevisível, mas contamos todos com a condenação, estamos todos mentalizados e mentalizámos as nossas famílias, apesar de esperarmos que não seja assim, claro.”

Sobre se desmente as acusações de que é alvo, nomeadamente a de tentativa de rebelião, Luaty Beirão tem uma resposta clara: “Nego completamente”. “Sou uma pessoa pacífica, não apoio qualquer tipo de violação à Constituição e sobretudo não apoio nenhum tipo de violência, e sou contra qualquer tipo de golpe de estado”, sublinha.

Nesta entrevista, diz que os angolanos começam a perder o medo e acredita que nada irá travar os ventos da mudança no país. “Quem vive cá, sente. É papável, as pessoas já falam abertamente, já não querem saber quem está ao lado, se é informante, se é agente de segurança, as pessoas já não querem saber. Já começam a falar, mas ainda não chegaram ao ponto de reagir”, observa.

“Sinceramente, eu esperava um pouco de bom senso por parte de quem está lá em cima para tirar essa temperatura ao descontentamento social, porque depois pode transbordar de uma maneira desagradável para toda a gente. Mas há coisas a mudar”, aponta.

Um exemplo destes sinais de mudança é a nota pastoral divulgada pela Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) no início do mês, em que os bispos condenaram a má gestão do erário público e a corrupção generalizada no país. "É praticamente inédito. Foram mesmo termos duros - os termos que tinham de ser, porque é o que é - mas é inédito a Igreja pronunciar-se dessa forma”, sublinha.

“Estou confiante de que daqui para a frente não há volta a dar. Não há retrocesso”, conclui o activista.

A sentença de Luaty Beirão, juntamente com 16 outros activistas angolanos, está marcada para esta segunda-feira. Para as 18h00, em Lisboa, foi convocada uma concentração no Rossio em defesa da liberdade para os activistas presos em Angola.

O julgamento foi marcado por vários episódios, como a decisão do juiz da causa, Januário Domingos, de mandar ler na integra, durante dois dias de audiência, as quase 200 páginas o livro do réu Domingos da Cruz, mas também vários protestos na rua junto ao tribunal, uns a favor dos activistas outros defendendo "Justiça sem pressão".

Foram ainda polémicas as notificações pelo Jornal de Angola para ouvir em audiência dezenas personalidades nacionais nomeadas nas redes sociais para integrar um governo de salvação nacional - que segundo o MP assumiria funções após a destituição do poder eleito -, ou aos protestos dos activistas em tribunal, descalços e sempre com frases de contestação ao regime angolano e aos atrasos no processo escritas nas roupas, tendo mesmo sido expulsos da sala pelo juiz numa das sessões.

O julgamento sofreu ainda sucessivos adiamentos, devido às faltas dos declarantes, e decorreu sem a presença em tribunal de observadores das representações diplomáticas acreditadas em Luanda e com a Amnistia Internacional a não considerar o julgamento como justo.

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  • viva o comunismo
    28 mar, 2016 Santarém 22:59
    Os senhores todos poderosos de Angola devem estar esquecidos do passado, do que fizeram no caso de mortes a gente indefesa e no que propagavam contra Salazar, finalmente acabam por ser aquilo que só o comunismo poderá ser, uma ditadura do mais feroz que existe.
  • beirão
    28 mar, 2016 Lisboa 21:44
    Eu tambem sou BEIRÃO ... mas moro em Lisboa ! Tenho sorte, porque nunca concordei com o ditador de Angola! Mas de todos os Beirões, de cá e de lá, muitos vão escapar às prisões angolanas e entretanto, vamos gritando bem alto que os comunistas acabarão por se converterem, ou serem banidos politicamente em todo o mundo!
  • tugatento
    28 mar, 2016 amarante 19:05
    E a justiça de Eduardo dos Santos, o todo poderoso, os juízes ou fazem o que ele manda ou são todos destituídos. De uma coisa tenho eu a certeza, começou o fim do sistema corrupto em Angola, pois havera mais angolanos sem medo de falar e manifestar-se. O governo corrupto e déspota de Eduardo dos Santos e seus capangas, vai ser confrontado com mais manifestações.
  • Arlindo Soares
    28 mar, 2016 Porto 15:40
    Ao serviço de quem esta gente está? É como no Brasil as manifestações fascistas com os senhores e as criadas negras com os filhos dos brancos ao colo, que pretende esta gente?
  • Jonas Savimbi
    28 mar, 2016 Huambo 15:25
    Em Angola quem manda é o Zé Eduardo e a filha (ambos muito ricos, e donos daquilo tudo, lá e cá)!
  • Estupidezes
    28 mar, 2016 Lx 14:58
    É mandar o Marinho Pinto para lá, para os defender, em vez de estar a engordar no Parlamento europeu!
  • Daniel
    28 mar, 2016 Lisboa 10:27
    Estes desgraçados vão servir de exemplo..

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