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Fora da Caixa

António Vitorino indignado: “Só damos protecção aos refugiados que podem pagar?"

29 jan, 2016 - 22:18 • José Pedro Frazão

Os comentadores do “Fora da Caixa” reconhecem o falhanço da União Europeia na recolocação dos refugiados que chegam à Europa. As medidas tomadas pela Dinamarca são fortemente criticadas pelo antigo comissário europeu.

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“Só damos protecção aos refugiados que podem pagar?"
“Só damos protecção aos refugiados que podem pagar?"

O antigo comissário europeu António Vitorino considera que a Dinamarca adoptou "medidas inadmissíveis" ao pretender pedir dinheiro a refugiados que solicitem apoios sociais.

O Parlamento dinamarquês aprovou, esta terça-feira, uma nova lei de imigração que, entre outras medidas, prevê contribuições financeiras dos requerentes de asilo para usufruir de benefícios sociais.

No programa "Fora da Caixa", da Renascença, o antigo comissário com a pasta da imigração rejeita a tese de que os refugiados devem contribuir para as despesas sociais como qualquer cidadão dinamarquês, argumento repetido na RR pelo embaixador dinamarquês em Lisboa.

“Os dinamarqueses que pedem prestações sociais não estão em situação de stress traumático como os refugiados. E, em princípio, têm condições de acesso ao mercado de trabalho, o que não está garantido aos refugiados. Há um período mínimo de dois anos em que os refugiados não terão condições de acesso nem legais nem práticas ao mercado de trabalho. Como é que vão subsistir senão através de prestações sociais? A questão não é tanto financeira mas de princípio. Damos protecção a quem pode pagar? E quem não pode pagar? Estamos a criar uma discriminação e uma presunção cuja base de verificação não sei como se faz”, critica António Vitorino para quem a Dinamarca adoptou “medidas inadmissíveis” num quadro em que “a desconfiança entre estados agravou uma situação desde já de si extremamente grave”.

A Europa falhou

O antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes reconhece um falhanço na Europa na recolocação dos migrantes.

“Depois do Natal, o tema desapareceu das notícias e voltou com toda a sua crueza. Uma crueza que mostra que nada avançou e, pelo contrário recuou-se. A recolocação falhou”, constata Santana Lopes no programa “Fora da Caixa” desta semana.

Santana Lopes argumenta que a fraqueza ao nível central na União Europeia contribui para a divisão entre estados membros.

“Quando a Europa está débil, quando a crise está instalada, quando o mundo está tremido, os poderes fácticos vêm mais ao de cima. As minorias bloqueiam, as coligações abanam, os estados regionais batem o pé. Os dirigentes mais “barulhentos”, conservadores, reticentes e radicais conseguem ter peso. Quando o poder político central não é forte, todos os outros poderes das gentes pouco tolerantes, xenófobas, que são contra este movimento de inclusão, ganham preponderância”, afirma o actual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Portugal isento de culpas

António Vitorino, que ocupou a pasta da imigração na Comissão Europeia no início do século, argumenta que a grande falha é essencialmente dos estados-membros da União Europeia.

“Portugal não está nessa lista. Tem tudo preparado para receber e até este momento recebeu 27 refugiados. Não lhos enviam. Há Estados que têm os refugiados no seu território que não estão a fazer o trabalho de triagem necessário para que a relocalização funcione”, denuncia o antigo ministro socialista na Renascença.

Já Pedro Santana Lopes considera que Bruxelas deve “puxar” pelos estados quando o trabalho não é feito pelos diversos países.

“Quando não o fazem, a União podia e deveria ter outro tipo de atitude no despertar das consciências, até no exteriorizar no agastamento pelos atrasos verificados, no puxar pelo processo. Quando há uma instituição acima dos estados que sente que estes estão com dificuldades, pela sua história e outras razões, tem que puxar pela carruagem”, remata Santana Lopes.

Comentários
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  • acacio l. s. oliveir
    31 jan, 2016 lisboa 13:02
    É hora do Sr Antonio Vitorino mostrar pessoalmente a sua solidariedade para com os refugiados e necessitados não esquecendo os do seu Pais não através de palavras mas de atos.
  • diog
    31 jan, 2016 Oeiras 12:25
    Será que não se luta por igualdade de direitos? Se eu (nós todos ) temos de pagar esses direitos sociais que tão mal parece a certos políticos, e estamos no nosso PAÍS no qual pagamos impostos, e se não tivermos condições de pagar não nos os prestam, porque carga de água certas pessoas, vindas de fora e tendo posses, têm de ter mais direitos que os de nacionalidade do PAÍS.
  • Tomaz
    31 jan, 2016 Lisboa 12:14
    Acho curiosa a indignação do António Vitorino. Se eu renunciar a qualquer tipo de divertimento e poupar o pouco que conseguir ao longo da minha vida, arrisco-me a não beneficiar de qualquer ajuda do estado por possuir algum dinheiro ao passo que o meu vizinho, que ganha exactamente o mesmo que eu e gastou tudo o que tinha e o que não tinha ao longo da sua vida já terá direito aos subsidios do estado. Para o Antonio Vitorino, isso é aceitável, mas para refugiados que possuam património, já se indigna que tenham de contribuir para beneficiar de ajudas. Ele que se preocupe antes com a sua coerência!
  • FRANCISCO OLIVEIRA P
    30 jan, 2016 VILAR DE ANDORINHO VNG 19:18
    Sou dos que não concordo com o recebermos milhares de pessoa. São carenciados, mas há portugueses a viver na miséria e ninguém lhe deita a mão. Porque razão a comunidade não se une para montarem empresas nessas terras e assim, darem-lhes emprego e a oportunidade de sobrevivência sem dependerem directamente de terceiros. Cá já temos muitos milhares a receberem dinheiro para não trabalharem e vamos ter de fazer o mesmo a essas pessoas. Antes de largarmos "bocarras", é necessário pensar no país que temos e como a sua população vive. Mas não acredito que os políticos tenham cabeça para pensar.
  • JoseGomesL
    30 jan, 2016 Lisboa 17:12
    Este Vitorino vê tudo ao contrário, evidentemente os migrantes que tiverem posses agora evitam ir para a Dinamarca. Por outro lado e ainda bem, os migrantes não querem vir para Portugal. Obrigado 44, por levares Portugal à bancarrota. Não te preocupes mesmo apesar da bancarrota o povo continua a votar ps. Só escrevi estas palavras para ser entendidas por pessoas inteligentes.
  • José António
    30 jan, 2016 Setubal 16:52
    Devias estar indignado era com a miséria que grassa em Portugal! Vejo-vos muito preocupados com a casa dos outros, mas na vossa, nem por isso.
  • Manuel
    30 jan, 2016 Lx 14:33
    António Vitorino é muito bom orador mas nesta questão não tem razão, a questão não é ser refugiado, a questão é ser muçulmano, os países europeus ou pelo menos a maioria não quer é mais muçulmanos visto estes terem parado no tempo e continuarem a viver na século VII e visto não querem evoluir e adaptar-se à sociedade e cultura europeia, fazem muito bem em não os querer aceitar. Os políticos em Portugal é que ainda não abriram os olhos..
  • Ricardo
    30 jan, 2016 Coimbra 11:03
    Vitorino onde é que estavas quando a França expulsou os ciganos e os mandou para a Roménia e a Bulgária? Ou quando a europa deixou a grécia afundar? Por serem europeus merecem tratamento inferior? Se tèm dinheiro, que o gastem. Se não gostam do acolhimento da europa, podem muito bem usar os milhares de euros que custa chegar à Alemanha ou aos outros países ricos da europa, e fazer a viagem para qualquer outro país que partilhe a mesma ciltura deles.
  • A. Moura
    30 jan, 2016 Lx 10:57
    Proponho que o Vitorino deixe o conforto do seu gabinete, as avenças fantásticas que deve receber e se voluntarie para ajudar. É muito fácil estar de longe a mandar postas de pescada. Do ponto de vista das ideias pode ser fantástico, não tem é autoridade moral nenhuma.
  • Afonso141@yahoo.com
    30 jan, 2016 Lisboa 10:54
    Os ideólogos do "socialismo para todos" ainda não chegaram à conclusão(ou não querem chegar)que o dito socialismo é sempre pago por alguém??Não pagam os tugas(e bem pago) tudo o que é Estado social(e muitas vezes sem retorno ou a tarde e mal)?Em que mundo vivem estes burgueses "socialistas"(ou liberais ou lá o que são)?Outra coisa curiosa é estarem sempre prontos a meterem a "colher" no que diz respeito a soberania de outros Estados europeus(ou nós gostamos quando os outros dão "bitaites" sobre nós,como tem sido na economia/crise?)Esta "gente" não se enxerga definitivamente.

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