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combate às alterações climáticas

Fim dos combustíveis fósseis. Até 2050 "é possível", até 2030 é "irrealista"

16 nov, 2022 - 17:41 • Redação

A meta de 2030 para o fim dos combustíveis fósseis "é irrealista", na opinião dos especialistas. O ano de 2050 será uma data mais razoável. Para alguns especialistas na área, a energia nuclear surge como possível alternativa para ajudar a combater as alterações climáticas, mas a opção não é consensual.

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A meta de 2030 para o fim dos combustíveis fósseis "é irrealista", na opinião do especialista José Carlos Matos, responsável pelo grupo de energia eólica do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial, do Porto - INEGI.

"O ano de 2030 não é uma opção realista”, diz José Carlos Matos à Renascença, avaliando a proposta que tem sido avançada por muito jovens ativistas em defesa do clima.

Portugal está atrasado no que se refere às energias renováveis, argumenta Matos."Só 60% da eletricidade produzida em Portugal é que vem das renováveis, mas a eletricidade conta apenas para 25% da nossa matriz energética”.

"Estamos a fazer o nosso caminho, poderíamos e deveríamos estar a andar mais rápido, para agravar estamos atrasados", aponta.

O que é certo é que estas alterações não podem ser feitas de forma repentina, “primeiro, porque o sistema energético tem que se adaptar e, por outro lado, isto deve ser feito minimizando os consequências sociais que existem, porque temos de perceber que hoje há uma parte substancial da economia que depende dos combustíveis fósseis e essa economia, também ela própria tem que se adaptar”

Se estas mudanças não forem pensadas, nem planeadas vão “causar sofrimento”, adverte José Carlos Matos.

O responsável pelo grupo de energia eólica do INEGI recomenda cautela com aquilo que se define como "fim dos combustíveis fósseis", mas se o entendermos como sendo “uma sociedade, uma economia ou um país em que emissões de CO2 são compensadas pela capacidade de ser sumidor das emissões”, podemos apontar 2050 como ano possível para atingir essa meta.

José Carlos Matos sublinha que há a possibilidade de “antecipar para 2045” e defende que se trabalhe nesse sentido, embora relembre que esta atitude “exige uma mudança social que não podemos tornar dolorosa para as pessoas, ou demasiado dolorosa, porque se corre o risco de as pessoas não se identificarem com essa causa".

Alternativa: nuclear

Sendo 2030, aos olhos dos especialistas, uma data irrealista para a "libertação" dos combustíveis fósseis, uma das soluções para acabar ou, pelo menos, reduzir a essa dependência pode ser a energia nuclear. A tese é de da organização ambientalista internacional "Replanet".

Luís Guimarais, um dos fundadores da organização, explica que “a energia nuclear, ao contrário do que se pensa, tem uma baixíssima pegada de carbono”, recordando os “números de instituições realmente isentas como as Nações Unidas, a Agência Internacional de Energia, a Agência Mundial de Saúde” para explicar que a “ energia nuclear é uma das fontes de eletricidade mais seguras, se não a mais segura".

Com 15 anos de trabalho de investigação em fusão nuclear, Luís Guimarais, desconstrói a ideia de muitos sobre o que é a energia nuclear dizendo que se trata de "colocar pequenas pedras de urânio dentro de um reator".

"O que as pedrinhas fazem é o seguinte: ao libertar calor, vão fazer com que essas pedrinhas à volta libertem mais calor. Umas destas pedrinhas com tamanho de uma goma, daquelas, por exemplo, dos ursinhos, tem a mesma capacidade energética que uma tonelada de carvão, com a vantagem de que o nuclear emite cinco gramas de dióxido de carbono por aquilo que nós chamamos quilowatt/hora e o carvão iliberta cinco mil."

A Replanet não recursa as energias renováveis e Guimarais diz mesmo que podem constituir um importante complemento à energia nuclear. Porém, a dúvida permanece quando se fala da opção pela energia nuclear em Portugal. A resposta de Luís Guimarais é “sim e não”.

"Não devido à atitude politica que temos. Um reator nuclear é uma obra de infraestrutura grande, que requer políticos com visão e sem medo de embarcar em projetos grandes", aponta. O especialista nota, contudo, que se o “panorama político mudar, tudo é possível”.

"Não há muitos país a nível mundial que sejam antinucleares", remata.

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