17 mai, 2022 - 18:32 • Sandra Afonso , Marta Grosso
Casa Forte de Reserva. É assim que se chama o local onde o Banco de Portugal armazena as reservas de ouro, recupera notas destruídas e analisa se algumas são falsas.
Portugal não vende ouro desde 2007, no âmbito do acordo de estabilização ao nível dos países do euro. Neste momento, é o sexto país da Europa Ocidental com mais ouro.
“O Banco de Portugal tem a 14.ª maior reserva de ouro do mundo e a 6.ª maior da Europa Ocidental”, afirma aos jornalistas Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal. “Não é uma ficção, ele existe”, garante.
Nesta terça-feira, numa visita guiada, os jornalistas puderam pela primeira vez tirar fotografias à Casa Forte de Reserva, que fica no Carregado.
Grande parte deste ouro está guardado nestas instalações: 13.666 barras, num total de 173 toneladas.
Cada barra pesa cerca de 12 quilos. No Carregado, estão ainda 406 barras que pertencem ao Banco Central Europeu (BCE), mas estão à guarda do Banco de Portugal (BdP).
Curiosamente, a maioria do ouro está no estrangeiro. “Temos 186 toneladas custodiadas no Banco de Inglaterra, um dos principais locais de custódia de ouro e de transação de ouro. Temos lá uma parte significativa do nosso ouro: cerca de 49%”, conta Hélder Rosalino.
A colocação de ouro no estrangeiro é uma estratégia comum entre bancos centrais, que permite a rentabilização do ativo, sobretudo quando as taxas de juro ficaram negativas.
Só em 2011, o euro rendeu 40 milhões (37% dos resultados ativos de gestão); em seis anos, o BdP encaixou 132 milhões com o ouro colocado no exterior.
Atualmente, as reservas de ouro representam 10% dos ativos totais do Banco de Portugal, avaliadas em cerca de 20 mil milhões de euros. Contas feitas, significa uma valorização de cerca de 17 mil milhões, caso a instituição entendesse vender este ouro.
Mas, nas instalações do Carregado há também 2,6 mil milhões de euros em notas.
No total, são 135 milhões e 856 mil notas, prontas para entrar em circulação.
Todas as notas que chegam ao Carregado passam por máquinas que verificam se são verdadeiras ou falsas e se têm condições para circular. Depois, são separadas em quantidade e divididas em maços, empacotadas.
No caso de as primeiras máquinas não conseguirem averiguar a veracidade das notas, elas passam para outra secção, onde vão analisadas por especialistas que vão usar outras máquinas para apurar a existência, ou não, de elementos de segurança – por exemplo, liga metálica, relevo, marca de água, filete de segurança, mas também alguns que não são do conhecimento público.
Segundo o BdP, os maiores picos de circulação de dinheiro falso em Portugal acontecem no verão e no fim de ano.
As autoridades judiciárias já conseguiram desmantelar várias redes de contrafação em Portugal.
Ao Carregado chegam também notas pintadas – tintas de segurança, lançadas na sequência da violação de uma caixa multibanco/ATM ou de um banco.
Se tinha notas em casa e ficaram danificadas por causa de um incêndio ou de cheias, ou ainda se o seu animal de estimação lhe deu umas dentadas, saiba que pode entregá-las ao Banco de Portugal.
Elas são depois enviadas para a Casa Forte de Reserva do Carregado e, de mais de 50% da superfície for recuperável, o valor das notas é restituído à pessoa. No caso de não se conseguir recuperar, são destruídas e não existe lugar a qualquer restituição.
De salientar que este é um serviço que o BdP presta sem cobrar qualquer valor, é ‘pro bono’.