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Alentejo

“Setor está paralisado”. Fábricas não conseguem receber mais bagaço de azeitona

13 dez, 2021 - 19:11 • Rosário Silva

A campanha de azeitona e a produção de azeite estão comprometidas. A federação das cooperativas de olivicultores diz que as fábricas da região do Alentejo que recebem o bagaço de azeitona “estão no limite da sua capacidade”.

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Desde a apanha de azeitona aos lagares que a transformam, “o setor olivícola está paralisado”. O alerta é da Federação Nacional das Cooperativas Agrícolas de Olivicultores (Fenazeites), num ano em que se prevê que a produção de azeite venha a atingir “as 180 mil toneladas”.

De acordo com a Fenazeites, as três grandes unidades de receção de bagaço de azeitona (caroço e polpa), proveniente dos lagares, que processam toda a azeitona produzida no Alentejo, “têm a sua capacidade de armazenamento esgotada ou praticamente esgotada e não aceitam mais matéria-prima”.

À Renascença, a secretária-geral desta federação, Patrícia Falcão Duarte, lembra que as unidades extratoras sedeadas na região alentejana “têm uma capacidade de laboração anual de 600 mil toneladas”.

No ano em que se espera um recorde de produção de azeitona, “é expectável que existam 900 mil toneladas de bagaço”, o que leva à existência de “300 mil toneladas” que não vão poder ser entregues nas unidades extratoras.

“Estas estão no limite da sua capacidade, têm os seus depósitos cheios e estão a trabalhar 24 horas por dia”, denuncia a responsável, recordando que, face a esta situação, os lagares também “não conseguem manter nas suas instalações todo o bagaço de azeitona”, o que os impede de laborar.

Os produtores continuam a entregar a sua azeitona onde o fazem habitualmente, e são os lagares que procuram, com muitas dificuldades, vias alternativas.

“Sei de uma unidade em Abrantes que está a entregar em Mirandela”, refere, acrescentando que “no Alentejo, há unidades que estão a ir entregar a Espanha”, sendo alternativas “dispendiosas e complicadas”, em termos de logística.

“Se eu tiver um lagar no Alentejo, falo no Alentejo porque é a zona onde se produz neste momento cerca de 80% do azeite nacional, e o deslocar para uma unidade extratora na região, o camião é capaz de fazer três, quatro viagens”, exemplifica Patrícia Falcão Duarte.

Mas, “se eu enviar o camião para Mirandela ou para Espanha, se calhar só me transporta uma carga por dia, e tudo isto são impedimentos, já para não falar no custo do combustível que é muito maior”, sublinha.

“Unidades mais pequenas e próximas dos lagares” pode ser solução

Nos últimos 15 anos, plantou-se muito olival, mas não se fez nada para aumentar a capacidade das unidades extratoras existentes, nem foram criadas novas, atendendo à dificuldade que existe no seu licenciamento.

“A ausência e recusa da aceitação de uma estratégia global equilibrada para o setor, pelos organismos competentes, tem provocado estes desequilíbrios estruturais, que já estão a penalizar todo o setor nacional”, nomeadamente no Alentejo, “onde o estrangulamento na receção dos bagaços de azeitona está a levar ao colapso das atividades relacionadas”, indica uma nota da Federação Nacional das Cooperativas Agrícolas de Olivicultores.

De resto, a Fenazeites e sua associada UCASUL – União de Cooperativa Agrícolas, há vários anos que procuram sensibilizar as entidades responsáveis para a possibilidade desta situação poder ocorrer.

Com o setor desequilibrado e o país à beira de eleições, Patrícia Falcão Duarte alerta para a necessidade de resolver este problema. Se não for com este, que seja com o próximo Governo.

“A senhora ministra diz que está a acompanhar e eu acredito que esteja, mas como temos um Governo de gestão, eu espero que isto possa ser resolvido com o futuro executivo”, afirma a secretária-geral.

“Vamos ter que nos sentar todos, setor produtivo e áreas da agricultura e ambiente, para encontrarmos uma solução”, defendendo a possibilidade de se “instalarem unidades mais pequenas, mais próximas dos lagares e mais funcionais”.

“Ano fabuloso” na Herdade da Figueirinha

Este é um problema sentido na Herdade da Figueirinha, às portas de Beja, onde a campanha deste ano regista um crescimento muito significativo relativamente ao ano passado.

O responsável, Filipe Cameirinha Ramos, lamenta a situação e acusa o Governo de “empurrar com a barriga” um assunto para o qual já foi alertado várias vezes.

“O Governo não quer tomar uma posição, anda a empurrar com a barriga”, diz à Renascença o empresário, lembrando que “as três secadoras de bagaço que temos no Alentejo, estão a pedir há uma série de tempo, licenciamentos para se poderem expandir, logo, isto era expectável”.

Este ano “estamos com uma superprodução”, e quase todos os lagares “estão com limitações para entregar o bagaço”, o que obriga o setor a parar” e isso não pode acontecer”, uma vez que “as azeitonas estão nas árvores e têm de ser apanhadas”, acrescenta.

Na Figueirinha, a produção está a ser entregue “a conta gotas e com dificuldade”. Filipe Cameirinha Ramos exige que “o problema seja resolvido”, e que toda esta situação sirva para “o setor abrir de olhos”, tendo em conta que se está perante “um ano fantástico e neste momento está a ser condicionado por causa das não decisões do Governo”.

Na herdade do baixo Alentejo, o ano está a ser “fabuloso”, com uma expectativa “de crescimento na ordem dos 40%”, comparativamente com o ano passado.

“Era bom que todos os anos fossem assim, pois estamos com um preço muito favorável, uma ótima qualidade e uma excelente produção”, declara.

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