As sementes são o que fazem da terra nascer vida. É com elas que abre a exposição “Para onde agora?” que a artista plástica Gabriela Albergaria mostra no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, no Brasil. A mostra que tem como título uma interrogação, mostra a inquietação da artista com a destruição da Floresta da Amazónia.

Em entrevista à Renascença, Gabriela Albergaria acusa o Governo do atual presidente brasileiro Jair Bolsonaro de ter “ações criminosas contra a natureza e os povos indígenas”. A artista que fez uma expedição à Amazónia denuncia a ausência de uma política de “recuperação da floresta”.

Na origem da exposição está uma viagem que fez em 2016, onde integrou a bordo de um barco, uma equipa científica que mergulhou no meio da selva. Desses dias, Gabriela Albergaria recorda por exemplo a sua urgência em fixar a cor das folhas que recolheu. Munida de lápis de cor, a artista plástica conta que o computador nem sempre funcionava bem, dado “o grau de humidade”. A velha técnica dos cadernos e dos lápis foram o seu método de trabalho.

Mas nada mais foi igual na carreira de Gabriela Albergaria depois desta viagem. “O que me fez mudar, foi a consciência de estar num lugar como a Amazónia”, diz-nos depois de ter recebido a visita de Marcelo Rebelo de Sousa e do ministro português da Cultura, Pedro Adão e Silva na sua exposição.

“Não há qualquer tipo de texto e de descrição que faça jus à experiência do lugar”, diz ainda hoje Gabriela Albergaria que trouxe para a sua obra a temática. Visitar “a floresta intocada é uma experiência extremamente forte”, revela.

“Faz com que a pessoa se interrogue e passe para o nível da consciência e da ética”, conta-nos a artista que desde então passou a usar outros materiais e técnicas “menos agressivas” para com a natureza no seu trabalho.

No chão da exposição, há uma peça que se impõe. “É uma árvore que morreu de pé”, indica Gabriela Albergaria que depois trabalhou esse tronco, cortando-o em fatias e dando-lhes a forma de um cubo. Ao lado, um ramo de uma árvore cuja extremidade termina com um rolo de papel, falando da dependência que o homem tem da natureza, e em particular das árvores.

“Trabalho cada vez mais com materiais orgânicos, passou a ser importante estudar técnicas mais vernaculares de construção, sempre no sentido de não ser agressivo”, explica-nos a artista que sublinha que este grito de alerta “parte do Brasil, mas o seu interesse é mundial”.

Há muito que a artista que vive fora de Portugal, e que agora reside em Bruxelas, tem uma relação com o Brasil. Na sua opinião, esta exposição é “contra a política de proteção da natureza de Jair Bolsonaro que não é proteção nenhuma”.

Gabriela Albergaria que diz que “não vale tudo”, fala em desrespeito dos direitos dos povos indígenas e lembra que “não há qualquer estudo de recuperação da floresta” e que “a extração torna-se criminosa”. Sublinhando o tempo que leva a recuperação, a artista lembra que a extração “leva apenas dois dias”.

Perante este grito de alerta da necessidade urgente de preservar que está na exposição cujo título completo é “Para onde agora? Where to now? Aller oú maintenant?” a artista conhecedora da realidade brasileira sente que hoje “as pessoas juntaram-se de uma maneira que não se juntavam antes, com uma consciência política que não havia há 10 anos”. As eleições presidências que têm bipolarizado a vida política brasileira são daqui a três meses.