Quando a seleção do Irão entrar em campo contra Portugal, esta segunda-feira, estará a lutar por muito mais que uma posição nos oitavos-de-final do Mundial de 2018. Uma vitória persa seria um grande consolo para um povo que atravessa, novamente, uma fase difícil, entre sanções impostas pelo ocidente e a repressão de um regime teocrático.

Para o próprio regime, um sucesso em campo poderá ser, contudo, um "pau de dois bicos". Se a maioria dos governos autocráticos gostam de poder exibir vitórias desportivas, levando o povo a esquecer as suas dificuldades por algum tempo e legitimando-se socialmente, os grandes aglomerados de adeptos que se reúnem para ver os jogos são também terreno fértil para protestos.

Em várias ocasiões, nos últimos anos, os iranianos têm aproveitado qualquer oportunidade para contestar o regime e, nessas contestações, há um nome que se ouve repetidamente: Reza Pahlavi.

Filho do último Xá - ou imperador - do Irão, Reza Pahlavi vive no exílio desde a revolução islâmica de 1979, que destronou o seu pai e mudou o destino do seu país, pondo fim a cerca de 2.500 anos de monarquia ininterrupta. Depois de terem vivido por uns tempos exilados no Egito, onde o seu pai morreuo, tornando-o, aos olhos dos lealistas, o legítimo governante do Irão, os Pahlavi mudaram-se para os Estados Unidos e por lá estão.

Nas entrevistas que vai dando sobre a situação do seu país, Reza insiste que não está a reivindicar o direito ao trono, pois essa decisão cabe aos iranianos, mas diz que está disposto a dar a vida pelo Irão e vai trabalhando com a oposição, sobretudo no exílio, para combater o atual regime.

Por enquanto, mais do que o seu próprio sangue, o contributo que o príncipe diz poder dar ao seu país é a experiência que advém de viver num país livre. “Eu gosto de ver as coisas pela positiva. Imaginem que eu tinha subido ao poder. Acho que não teria tido 1% da experiência e do conhecimento que ganhei por viver numa sociedade livre e num país democrático”, afirmou há dias, numa entrevista à Bloomberg.

[Vídeo que mostra manifestantes no Irão a entoar o nome de Reza Pahlavi]

Tragédias familiares

O exílio dos Pahlavi não pode ser descrito como “dourado”. Reza tem uma empresa de construção civil, dedicando o tempo que pode aos seus deveres como chefe da Casa Imperial. É casado e tem três filhas.

Mas, apesar do conforto material em que a família vive, a tragédia também não lhe tem sido estranha. Em 2001, uma das irmãs de Reza, a princesa Leila, suicidou-se num quarto de hotel. Mulher de grande beleza, trabalhava como modelo e era muito próxima do irmão Ali-Reza, o segundo filho varão do Xá.

Dez anos mais tarde, foi a vez de Ali, que nunca se recompôs da morte da irmã, a adbicar da própria vida, no que constituiu mais um grande choque para a família imperial.

O príncipe Reza tem ainda duas irmãs vivas: Shahnaz, a mais velha, e Farahnaz.