Foi inaugurada esta tarde, na Assembleia da República, uma exposição de fotografia chamada “Futuros presidentes de Moçambique”.

Até dia 16 de abril o público poderá ver esta mostra que revela os rostos de 20 crianças moçambicanas retratadas pelo fotógrafo Luis Mileu.

Por detrás das caras das crianças, que são ajudadas pela organização não governamental Helpo, estão histórias dos sonhos contadas pelo escritor Ricardo Henriques.

Ricardo Henriques levou o papel e a caneta e Luis Mileu a câmara fotográfica. Durante 11 dias visitaram as províncias moçambicanas de Cabo Delgado e Nampula. No regresso trouxeram os retratos e histórias de sonhos de crianças que recebem ajuda da Helpo, uma ONG que aposta no apoio a populações vulneráveis.

O escritor Ricardo Henriques conta como foi desafiante falar com estas crianças e saber o que queriam ser quando fossem grandes, numa língua onde a palavra sonho não existe. “Tivemos algumas dificuldades porque uma das línguas mais faladas no Norte é o macua, e em macua não existe nem a palavra sonho, nem a palavra futuro, por isso, logo aí, existe já um entrave a eles imaginarem-se num futuro mais longínquo”, explica.

“A maior parte das crianças são filhas de agricultores e fazíamos sempre essa pergunta: ‘o que é que queres ser quando fores grande?’. A verdade é que nenhum deles queria trabalhar na terra, mas os sonhos deles eram muito curtos. Até brinco num dos textos ao dizer que há muitas crianças subnutridas em Moçambique, mas a imaginação também está subnutrida, porque temos de lhes dar alguma base e a base deles é muito curta.”

“Eles querem ser médicos, enfermeiros e professores. Claro que uma respondeu que queria ser Presidente, e até pensei que tinha sido a professora a treiná-la para dizer isso, mas não, queria mesmo ser Presidente”, diz Ricardo Henriques.

“Futuros Presidentes de Moçambique” é o nome da exposição que a partir desta quarta-feira poderá ser visitada na Assembleia da República.

Repetente na visita a Moçambique, o fotografo Luís Mileu explicou que teve a vida facilitada ao retratar estas crianças: “Tinha estado na Beira e em Tete e já tinha tido contacto com esta realidade e tinha-me fascinado com a forma luminosa e orgulhosa com que este povo, sobretudo os macuas - com quem tive mais contacto - olham para as coisas. Há uma pureza intrínseca na forma de ser deles, e nas crianças é incrível, porque parece que toda a vida foram preparadas para serem modelos. Elas nunca viram uma câmara, mas a forma como olham para ela é fantástica, e torna o ato de fotografar relativamente fácil”.

Vinte fotografias, vinte histórias estão no site da exposição, onde Ricardo Henriques e Luis Mileu fizeram um diário de bordo desta expedição que pode agora ser vista na Assembleia da República.