A pergunta partiu do público que encheu a sala da Galeria Municipal da Biblioteca Florbela Espanca em Matosinhos. Um leitor queria saber o que Claudio Magris pensava sobre a Alemanha. A pergunta surgiu depois do escritor nascido em Trieste, em Itália ter falado da actual situação da União Europeia que para Magris está “fraca” e “bloqueada”. Sobre o país governado por Angela Merkel, o autor de “Danúbio” disse que vive “entre a ordem e a ruptura e o caos”.

Apesar da riqueza, a Alemanha, no entender de Magris é um caso complexo. Simultaneamente, Berlim demonstra “abertura” e “precipitação em relação a determinadas crises” como a dos refugiados. Por isso Cladio Magris chama a atenção para o facto de haver “pela primeira vez, um novo fascismo e neonazismo na Alemanha” que no entender do escritor “faz pensar e com o qual temos de ter muito cuidado”

Na entrevista conduzida pelo ex-euro-deputado Rui Tavares, em Matosinhos no âmbito do Festival LeV – Literatura em Viagem – Claudio Magris falou também da actual situação da União Europeia que na sua opinião “está muito fraca e bloqueada em vários aspectos e não é só na questão dos refugiados”. Para o escritor que venceu em 2013 o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva e que se assume publicamente nesta conferência como um “patriota europeu”, há ainda “o sonho que exista um Estado europeu”.

Magris vai mais longe e espera um dia haja um presidente europeu no qual possa votar e que “os países se transformem em região da União Europeia”.

Numa tarde de sala cheia de espectadores que ouviram as palavras de Magris através da tradução simultânea de italiano para português, muitos foram os que escutaram os elogios do escritor aos seus tradutores. Segundo Magris, esses profissionais são também “co-autores”, porque “a tradução literária é também uma co-autoria”. A Quetzal, editora de Magris em Portugal publica por estes dias o seu novo título. “Uma Causa improcedente” é uma obra na qual o autor está a trabalhar desde 2009. Na base do livro está “uma pessoa que existiu” disse o escritor que justificou que acha “a realidade mais estimulante do que a ficção”. Para o novo livro, Magris inspirou-se “numa pessoa que dedicou a sua vida de forma quase obsessiva a um museu da guerra” e que “morreu num incêndio em condições não muito claras”. Este protagonista “procura nomes, além de objectos” indica o escritor italiano que conclui, “os objectos contam cada um uma história, são como uma nota de roda-pé da história”.

O escritor que tem vários títulos editados em Portugal lembra que o nosso país foi um dos primeiros a traduzir as suas prosas e recordou em Matosinhos um conto que tem a ver com a região, intitulado “O Conde”. Questionado por uma pessoa do público se se revia na frase do escritor espanhol Enriq Vila-Matas que afirma “escrever é corrigir a realidade”, Claudio Magris explicou que para si, escrever “é completar a realidade, retirar da realidade determinadas potencialidades que não tiveram oportunidade de se desenvolver” e concluiu “a realidade são uma espécie de futuros que foram interrompidos”

A plateia que aplaudiu a sessão e que depois ficou numa fila para pedir um autografo a Claudio Magris ouviu ainda o escritor falar da sua terra, a pedido de Rui Tavares. Feita uma declaração de amor a Trieste, Magris falou do vento da sua cidade que “é muito forte”. Em “vários pontos da cidade há mesmo cordas para que as pessoas possam se agarrar durante o vento forte, frio e seco.” descreveu Claudio Magris na cidade costeira de Matosinhos.