A diocese do Funchal não está a equacionar abrir um processo canónico ao padre que recentemente assumiu ser o pai de uma criança de poucos meses.

O gabinete de comunicação da diocese refere, numa nota enviada à Renascença, estar “a acompanhar a situação no respeito pela delicadeza do caso, da dignidade das pessoas e das consequências que as mesmas têm na própria paróquia (Nossa Senhora do Monte) e nas restantes comunidades cristãs”.

O comunicado acrescenta que “a Igreja é um espaço de misericórdia e Deus perdoa tudo, mas não pode admitir uma vida dupla”.

O próprio bispo do Funchal, D. António Carrilho, diz em declarações à Agência Ecclesia que “o que a Igreja não aceita, evidentemente, é uma vida dupla”, pelo que o sacerdote envolvido nesta situação vai, “em consciência”, fazer um “discernimento” e “assumir as suas responsabilidades”. Até porque “quem assume o celibato, é evidente que o assume livremente”.

Assim, “caberá ao próprio sacerdote discernir em diálogo com o bispo se pretende continuar a exercer o ministério sacerdotal segundo as exigências e normas da Igreja ou se pretende abraçar outra vocação”, refere ainda esta nota.

O texto acrescenta que “o sacerdote deseja continuar” a exercer as suas funções e “sente que tem o apoio da comunidade paroquial do Monte, mas não deixa de ponderar colocar o seu lugar à disposição da diocese para que se procure o que for melhor para a Igreja”.

A diocese do Funchal, não vai neste momento abrir qualquer processo ao padre Giselo Andrade, mas vai simplesmente fazer “o acompanhamento pastoral e o discernimento”.

A questão de padres que têm filhos, em violação dos seus votos de celibato, não é nova, mas recentemente tem sido alvo de maior atenção por parte da hierarquia. Os bispos da Irlanda publicaram normas sobre o assunto, deixando claro que “no mínimo, os padres não devem ignorar as suas responsabilidades”.

Em Setembro foi anunciado que os conselheiros do Papa Francisco sobre o escândalo dos abusos sexuais de menores iriam também ocupar-se da questão dos filhos de sacerdotes.

Na Igreja Católica existem alguns casos de sacerdotes legitimamente casados, que têm filhos, mas a vasta maioria dos padres católicos são obrigados ao celibato.

Padre Giselo Andrade assume paternidade

Entretanto, o padre Giselo Andrade continua como pároco na Igreja de Nossa Senhora do Monte, mesmo apesar de ter assumido, na última semana, a paternidade de uma menina nascida em Agosto.

Ainda ontem, o sacerdote celebrou missa da manhã, tendo tudo decorrido com normalidade. No final da Eucaristia, o pároco, dirigindo-se aos fiéis presentes, agradeceu o apoio “neste momento difícil”.

No passado sábado foram divulgadas as nomeações pastorais para o Funchal e havia alguma expectativa sobre o destino a dar ao padre Giselo. No entanto, o decreto publicado no site oficial da Diocese omite a paróquia de Nossa Senhora do Monte, pelo que, para todos os efeitos, o sacerdote continua em funções.