O Conselho Geral da Cáritas Portuguesa expressou a sua solidariedade para com aqueles que fogem da guerra e procuram refúgio longe de casa. No comunicado final, a instituição “apela à paz” e “compromete-se a promover acções transformadoras, quer no acolhimento fraterno, quer nas comunidades que estão na linha da frente”.

Em entrevista à Renascença, Eugénio da Fonseca disse que “nada disto deve endurecer o nosso coração e nós cristãos, particularmente, devemos pensar sempre que Deus é Pai de todos e está sempre na expectativa de que as pessoas mudem para bem”. Contudo “lamentamos que continue a existir um impasse que se verifica ainda maior com estes acontecimentos de Paris relativamente à chegada das pessoas que já estão destinadas aos países que se disponibilizaram para acolher”.

Para o presidente da Cáritas Portuguesa, isto “revela como a Europa se distanciou dos princípios que estiveram na sua origem, que não foram apenas económicos mas também de solidariedade”.

Questionado pela Renascença se o processo de acolhimento garante que no meio dos refugiados não virão terroristas infiltrados, Eugénio da Fonseca admitiu que não, até porque “há países que têm sistemas securitários e não é por isso que deixam de acontecer situações trágicas como aquelas que aconteceram em Paris”. No entanto, acredita que os terroristas não vêm pelos mesmos meios que os refugiados – atravessando o mar, pondo em risco a própria vida.

Segundo Eugénio da Fonseca, eles virão “por outros meios porque estão ancorados em meios económicos bem diferentes daquelas pessoas que fogem”. Todavia, “não podemos, porque há um acontecimento, porque pode haver um problema, pôr em causa o respeito pela dignidade da vida de milhares de pessoas”. E remata “há riscos que temos de correr”.

Em comunicado, o Conselho Geral demonstra também a sua “preocupação com a actual situação política do país, apelando a soluções que tenham em conta o bem comum e as necessidades das pessoas que mais sofreram nos últimos quatro anos de grave austeridade”.

A Cáritas considera que “qualquer solução deve passar por uma estratégia nacional para a erradicação da pobreza”. Em declarações à Renascença, Eugénio da Fonseca pede que “dado que há um crescimento macroeconómico a acontecer em Portugal, que se retomem medidas de protecção social que foram retiradas às pessoas (…) não criando desequilíbrios económico-financeiros que nos levem outra vez para os braços de especuladores financeiros, mas fazendo uma distribuição da riqueza mais justa”.

Aquilo a que estamos a assistir é mais uma vez, acusa Eugénio da Fonseca, “ a classe política a não demonstrar que a sua missão é a defesa do bem comum mas é muitas vezes a defesa da conquista do poder, a defesa de interesses ideológicos e muitas vezes até a defesa de situações que podem não ser prioritárias”.

Neste Conselho Geral foram também apresentadas as dinâmicas previstas para este ano no âmbito da campanha “10 milhões de estrelas – um gesto pela Paz” e que, pela primeira vez, envolvem os jovens.

“É uma estratégia”, revela Eugénio da Fonseca, de “rejuvenescimento da acção social da Igreja, trazendo os jovens de uma forma mais perseverante, integrando de forma organizada os grupos paroquiais de acção social para que se traga maior criatividade”.

Eugénio da Fonseca diz que “é urgente que tal aconteça porque, a mantermos os níveis de idade dos grupos existentes, podemos até estar a falar de uma pastoral em vias de extinção”.

Para já, a ideia é envolver os jovens, incluindo o Corpo Nacional de Escutas nesta operação e, depois, mensalmente em cada diocese, ter pelo menos uma acção com jovens, “aproveitando o Ano Jubilar da Misericórdia, para que eles se vão aproximando deste compromisso social da sua adesão à pessoa de Jesus Cristo”. Porém, o calendário ainda não está definido. Eugénio da Fonseca revelou ainda que, este ano, 35% das receitas da venda das velas reverterão para as vítimas dos conflitos no Oriente.