A vitória de Marcelo inicia um tempo novo em Portugal: um Presidente da República que retira a sua força directamente do povo e não o deve às tradicionais máquinas partidárias e elites iluminadas, mesmo que escondidas atrás de protocandidatos independentes ou de protocandidaturas cidadãs.

Por ser o verdadeiro tempo novo, um tempo verdadeiramente novo, ninguém sabe bem o que esperar.

Se Marcelo é o Presidente do povo, então do povo dependerá, e da sua relação com ele. O povo na sua diferença e diversidade bastar-se-á com os abraços e beijinhos? Que parte do povo alienará em cada pequena decisão, e que parte ganhará? Não esqueçamos que ontem à noite começou a operação #marcelo2021.

Depois, será interessante perceber como é que um novo Presidente joga com os poderes institucionais que são o esqueleto do Portugal democrático (as Forças Armadas, a igreja, a banca, a administração pública, as instituições europeias e internacionais, o empresariado, a academia, as outras instituições políticas, em especial o Tribunal Constitucional). Um Presidente mais livre é um Presidente menos institucional – e as instituições gostam de institucionalismos, como o nome indica.

Marcelo varreu de norte a sul, de este a oeste, continente e Madeira, cá dentro e lá fora. Nos Açores ganhou, ganhou mas perdeu. Ganhou porque obteve 58% dos votos, muito acima do resultado nacional e na Madeira. Mas perdeu porque nos Açores a abstenção foi de 69%. E com 69% de abstenção nenhum Presidente ganha. E talvez fosse bom começar justamente por aí este tempo novo, indo ao encontro daqueles que não foram ao encontro das urnas.