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O candidato presidencial Marcelo Rebelo de Sousa considera que o facto de um Presidente da República ser cristão em nada o limita no exercício do cargo. Dá-lhe, sim, mais responsabilidade.

“Eu acho eu é errado dar uma resposta deste teor: era bom que o Presidente fosse cristão, porque se fosse cristão, além das qualidades todas que têm os outros, tem mais uma. Isso não existe. Eu diria o contrário. Tem uma responsabilidade acrescida por ser cristão. Nós, por sermos cristãos, não temos mais direitos. Se temos alguma coisa é mais deveres. Quem mais recebe, mais tem de dar”, defendeu na quarta-feira à noite, durante o debate “Conversas com Deus”, que decorreu em Lisboa.

Marcelo Rebelo de Sousa respondeu a perguntas na Capela do Rato. Durante o evento, o candidato a Belém falou ainda sobre aborto e eutanásia.

Ser cristão pode limitar o cargo de chefe de Estado? “Nada”, respondeu. “Vivemos num país com uma Constituição – eu fui constituinte, portanto conheço-a bem – que consagra a liberdade religiosa. Significa que não há um Estado confessional, mas também não há um Estado que seja contrário à liberdade religiosa”, começou por explicar.

“A liberdade religiosa não é só a liberdade de culto, é também a liberdade de vivência da fé, nos lugares de culto e fora dos lugares de culto. Como dizia a Sophia de Mello Breyner, vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”, concretiza, dizendo também que denunciar a injustiça na sociedade é um imperativo cristão.

Outra coisa que “faz parte da liberdade religiosa” é aceitar que as pessoas gostem ou não gostem do “fenómeno religioso”. Na opinião de Marcelo Rebelo de Sousa, a juventude não tem hoje contacto com este fenómeno, o que cria um desafio à Igreja portuguesa.

“Igreja que somos todos nós, não são os outros. São, sobretudo, os leigos. Temos o desafio da juventude, que nem sequer ter o contacto com o fenómeno religioso para aceitar ou rejeitar. Não existe. E tratar com naturalidade esse fenómeno. Eu sempre tratei na minha intervenção cívica, nas aulas, na televisão, como pedagogicamente normal. As pessoas gostam, não gostam, concordam, discordam, vivem, não vivem – é legítimo”, sustentou.

Em Lisboa, os cristãos são uma minoria. “Tenho dito isso há 10 anos” e disseram-me para não dizer. Mas Marcelo não vê qualquer problema: “há muitos sítios do mundo onde os cristãos são minoria e não deixam de se afirmar como tal.”