Chamam-se Tendência Esperança em Movimento (TEM) e querem ser uma corrente de opinião dentro do CDS. Mas recusam ser oposição à actual presidente o partido, Assunção Cristas.

“Somos essencialmente construção e queremos contribuir para a solução”, diz à Renascença um dos fundadores, Abel Matos Santos, psicólogo clínico no Hospital de Santa Maria.

Com Luís Graça, Francisco Alvim, Lopo de Carvalho e Bernardo Sacadura formaram a TEM que, diz, já tem centenas de apoiantes e quer formalizar-se como uma corrente de opinião dentro do CDS. Essa é uma figura estatutária que existe há alguns anos dentro do partido, mas que acabou por nunca ser usada.

Pires de Lima e Adolfo Mesquita Nunes ainda tentaram formalizar uma corrente de opinião, mas eram necessárias 600 assinaturas e não as conseguiram. E Filipe Anacoreta Correia - que formou o Movimento Alternativa e Responsabilidade e chegou a candidatar-se como oposição a Paulo Portas - nunca chegou a tentar tornar o seu grupo numa corrente de opinião.

Abel Matos Santos, que esteve no Alternativa e Responsabilidade, diz que desta vez é que é e que, finalmente, o CDS vai ter o exercício do direito de tendência. Depois de várias mudanças de regulamento, agora só são necessárias 300 assinaturas, mas o TEM conta apresentar mais de 600.

O movimento já organizou alguns encontros no país, mas ganhou mais notoriedade devido ao apoio da Presidência da República à conferência que organizam este sábado para debater a democracia-cristã e em que vão homenagear três ex-presidentes do partido: Adriano Moreira, Manuel Monteiro e José Ribeiro e Castro.

A actual líder chegou a confirmar presença, mas acabou por dizer que, afinal, não vai por motivos de agenda.

O alto patrocínio de Marcelo não agradou ao CDS e acabou por ser justificado pela Presidência com o tema da conferência e o facto de prestar homenagem a um conselheiro de Estado. E acabou por dar mais visibilidade ao movimento que, diz Abel Matos Santos, é constituído por “portugueses empenhados no futuro”, tanto militantes do CDS como não militantes.

“Os partidos esvaziaram-se do debate ideológico. Achamos que é importante que se volte a discutir política”, diz, lembrando que o CDS “tem uma carta fundacional assente na matriz democrata-cristã” e essa matriz “fez tão bem à Europa”.

“Queremos recuperar isso, queremos que se discuta doutrina porque a resposta aos problemas das pessoas é tão melhor quanto mais for enformada de doutrina. A doutrina serve para encontrar as melhores respostas para as pessoas. Num tempo em que se fala tanto de pragmatismo, achamos que o pragmatismo sem um referencial ideológico pode ser perigoso”, acrescenta este fundador da TEM.

Quanto à relação com a direcção do partido, Abel Matos Santos rejeita que sejam oposição. “Somos essencialmente construção e queremos contribuir para a solução. Não estamos contra ninguém e muito menos contra a presidente do partido. Queremos é que o que aquilo que trazemos para dentro do CDS seja uma mais-valia para a professora Assunção Cristas, que seja um referencial em que ela se possa apoiar. O que vamos fazer é acrescentar valor, defendendo de forma inalienável os princípios e valores em que acreditamos”, afirma.

E que valores são então esses? “Revemo-nos no espirito humanista, personalista de inspiração cristã, achamos que a pessoa deve estar no centro da nossa atenção e que as respostas para os problemas devem ter em conta a singularidade de cada um.

Portanto, o que queremos, de facto, é fazer com que todo o espaço da sociedade se organize em torno desta ideologia democrata-cristã, na educação, na justiça, na saúde…”

“Num tempo com tantos problemas, em que as soluções são encontradas um bocadinho à pressa até devido à necessidade e urgência do que vai acontecendo, achamos que é preciso pensar no modelo de sociedade que queremos e achamos que devemos pensar numa sociedade mais solidária em que cada pessoa é irrepetível e única e onde temos de olhar para esta pessoa aos olhos deste referencial democrata-cristão que é aquele que levou à fundação do CDS em 1975”, acrescenta este psicólogo clínico.

Abel Matos Santos diz que já “há uma alegria e uma esperança” em torno deste movimento e que “muitas pessoas que já não estavam no partido e outras que nunca tinham estado têm voltado e têm-se filiado”, mas garante que não querem “criar cisões, nem guerras” e estão disponíveis para ajudar o CDS no que for preciso.

“Queremos participar, mas os lugares não nos movem. Estamos aqui para ajudar, se tivermos que ocupar lugares, ocuparemos naturalmente”, conclui.