Um grupo de proprietários de Alojamento Local reuniu mais de 50 mil euros de donativos em apenas três dias, no âmbito de uma campanha de "crowdfunding" que visa angariar financiamento para as despesas legais da luta contra a entrada em vigor das medidas do Programa Mais Habitação.

A campanha iniciou-se no sábado, na plataforma “Gofundme”. De acordo com a informação da campanha, os fundos recolhidos vão ser geridos pela Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP).

Em declarações à Renascença, Carla Costa Reis, uma das organizadoras da campanha, explica que tudo partiu "da sociedade civil, daquelas pessoas que trabalham em Alojamento Local e que estão muito preocupadas com a proposta de lei que o Governo entregou na sexta-feira à Assembleia da República, que dita o fim do Alojamento Local daqueles que nós chamamos pequeninos, aquelas pessoas que têm um apartamento ou dois ou que prestam serviços para o Alojamento Local".

Carla Costa Reis diz que, desta forma, será possível “reunir advogados, fiscalistas e outros meios que sejam necessários para combater de forma mais eficiente aquelas propostas. Pretendemos dar músculo à associação e vamos recolher donativos para que a associação se possa rodear de uma boa equipa que a possa assessorar da melhor maneira, permitindo à associação defender o setor da melhor maneira possível".

O recurso ao crowdfunding permite que “aqueles que são mais próximos” e que conhecem as dificuldades do setor possam ajudar, até porque “é mais fácil pedir dinheiro às pessoas que nos conhecem e reconhecem a dificuldade que estas alterações vão representar para nós, do que a entidades que não conhecemos e, se calhar, não entendem muito bem aquilo que é a nossa atividade.”

Foi com surpresa que a organização da campanha viu o valor angariado crescer rapidamente, principalmente tendo em conta que o momento é de crise generalizada. "Há pessoas que dão 100 euros, há pessoas que dão cinco, há pessoas que dão mil. Dentro daquilo que são as possibilidades de cada um para ajudar a defender não só quem tem o alojamento local, mas todo o ecossistema, ou seja, as lavandarias, os canalizadores, as senhoras das limpezas, as mercearias, todos aqueles que vivem do dinheiro dos turistas têm todo o interesse em contribuir.”

Existe ainda o objetivo adicional de fazer campanhas de promoção do alojamento local junto ao público porque “as pessoas não sabem o que é que é isto do alojamento local, acham que o alojamento local são aqueles investidores ricos, que têm muito dinheiro, aqueles prédios inteiros, mas não. Aliás, se fossemos essas pessoas não precisávamos de fazer um crowdfund para chegar aos 100 mil euros, cinco euros de cada vez".

"É importante fazer uma campanha a mostrar quem é que nós somos. Quem são estas pessoas que trabalham no e para o alojamento local? Quem é esta gente? Porque é que estão preocupados? O que é que andam a fazer? O que é que eles contribuíram? Será que têm mesmo a ver com o problema da habitação? Será que sim? Será que não? Será que já existe regulamentação? Nós precisamos de conseguir comunicar isso”, reforça

A empresária não tem dúvidas de que se consiga chegar aos 100 mil euros “porque o que está em cima da mesa é mesmo a nossa viabilidade de continuar a prestar serviços de alojamento local"

"Ou nós conseguimos dar uma resposta firme e contundente que chame a atenção, de facto, do governo e que inviabilize a aprovação destas medidas ou, se não o conseguimos até 31 de dezembro, saímos do mercado do alojamento porque não conseguimos fazer face à taxa, porque a guerra nos condomínios vai assustar os hóspedes e pôr vizinhos uns contra os outros”, sublinha.

A representante da organização da campanha está convencida que esta “é literalmente, sem exagero” uma luta de vida ou de morte, proque “se as medidas forem aprovadas em Assembleia da República, pelo menos 95% do Alojamento Local vai desaparecer”.

Os empresários de Alojamento Local contestam as medidas do Programa Mais Habitação do Governo, nomeadamente a suspensão de emissão de novas licenças até 2030, que alegam pôr em perigo a sobrevivência do setor. Após algumas ações de protesto decidem agora avançar com novas formas de luta contra a entrada em vigor da Proposta de Lei nº 71/VX71.a. A angariação de 100 mil euros em donativos para fazer face a despesas legais é a ação que se segue.