Os números não deixam dúvidas e, quando comparados com os anos anteriores, revelam que a situação é cada vez mais dramática. No final de 2019 havia perto de 80 milhões de refugiados no mundo.

André Costa Jorge, coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), lembra o aumento significativo de migrantes no último ano, num número equivalente ao da população portuguesa, ou seja, 10 milhões.

O responsável desvaloriza os recentes movimentos de refugiados, sobretudo oriundos de Marrocos em direção a Portugal. "A situação mais recente e que foi mediatizada com a chegada nos últimos seis meses de quatro barcos vindos de Marrocos pode ser integrada no quadro geral das grandes movimentações dentro da Europa. Por isso não podemos sobrevalorizar estes acontecimentos que não têm comparação com a situação do mediterrâneo central ou com a de Espanha, que nos últimos seis meses recebeu mais de ste mil pessoas. A Portugal no último meio ano chegaram 40”, refere André Costa Jorge.

O coordenador da PAR acredita que “algum sensacionalismo mediático" com este tipo de situações "pode criar alarmismo em torno do fenómeno que não tem justificação e que pode originar uma perceção de ameaça aos países de acolhimento”.

André Costa Jorge sublinha que o facto de Portugal receber migrantes que recorrem a meios ilegais, que recorrem a esquemas irregulares de migração, "não os torna nem ameaçadores, nem perigosos”. “Temos que ter claro que os migrantes não representam em si uma ameaça aos países de acolhimento. Representam um desafio, mas não são uma ameaça”, acrescenta.

O responsável da PAR garante que "essa perceção de ameaça quase sempre infundada" dos refugiados conduz "a situações de repressão que resultam em violência e morte" junto dos países de acolhimento. Costa Jorge lembra as notícias recentes na Grécia, "em que as autoridades policiais e de fronteira afastaram barcos com crianças e mulheres grávidas empurrando-as de volta para o mar” e destaca que “a Igreja assinala neste dia [do refugiado] que cerca de 40 mil migrantes perderam a vida na travessia” para sublinhar que “temos que perceber que se muitas dessas pessoas se arriscam a vida é porque estão numa situação de enorme desespero”.

Neste contexto, André Costa Jorge pede à Europa e aos decisores políticos compreensão pela situação de fragilidade dos migrantes. O responsável diz que estaríamos a entrar pelo lado errado da questão se criminalizássemos as migrações.

Por último, o responsável da PAR alerta para o facto da pandemia, além de criar maior risco aos refugiados que “não têm acesso a meios básicos de protecção”, origina um segundo problema relacionado “com o acesso aos meios legais de emigração”. Costa Jorge recorda que a covid-19 “levou ao fecho generalizado de fronteiras e de serviços, nomeadamente nas embaixadas”, serviços esses que “permitiriam aos migrantes iniciaram os seus processos de legalização”. “A pandemia tem também este efeito de tornar mais distante o acesso a métodos legais de emigrar e à proteção”, conclui.

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