Os lisboetas tropeçam todos os dias em trotinetes elétricas. A situação tem-se agravado, por serem cada vez mais as empresas que fornecem aquele serviço, o que aumenta os problemas de estacionamento indevido e abusivo.

Os utentes deixam-nas em todo o lado: no meio de passeios, junto à entrada de universidades e escolas, à porta de hotéis e nas saídas do Metro.

A reportagem da Renascença foi ouvir a opinião de quem utiliza e quem tropeça nas trotinetes.

Maria Helena Barreiros equilibra-se com alguma dificuldade, sobretudo no arranque. Não é uma utilizadora habitual do serviço. O cachecol atrapalha os movimentos e não parece muito confortável - ou confiante. Ainda. Porque demonstra ser defensora do sistema, pela mobilidade que permite: “A grande vantagem é elas estarem acessíveis em qualquer lado. O que é simpático.”

Simpático, mas que muitos, sobretudo os que andam maioritariamente a pé pela cidade, vêm como um travão a essa mesma mobilidade. Falta civismo na hora de fazer o “logout”, como alerta Eurico Augusto, que acaba de tomar o pequeno almoço num dos cafés junto ao Largo da Graça.

Podem andar, “desde que as pessoas tenham o civismo de as arrumar nos sítios indicados, e não espalhá-las por um sítio qualquer”. E quem não respeitar os outros, deveria, por exemplo, ficar impedido de voltar a utilizar aquele serviço, defende.

Ainda assim, Eurico Augusto sublinha que são uma boa alternativa de locomoção e de proteção do ambiente, na medida em que “deixam de andar de automóvel, deixando de poluir a cidade.”

Junto ao balcão de uma conhecida tinturaria do bairro da Graça, de que é proprietária, Manuela Macedo resume a situação: “Isto foi um veículo que chegou aqui, foi posto e não há regras. Nem das juntas, da Camara nem de ninguém”.

Nem regras nem civismo, realça. E considera que uma das possíveis soluções é fazer o mesmo que se faz com as bicicletas elétricas espalhadas pela cidade - que só podem ser levantadas e entregues em locais próprios.

De fato e gravata, percetíveis debaixo de um sobretudo, Manuel Condez segue, com velocidade, numa trotinete elétrica, Avenida da República abaixo. É utilizador frequente do sistema.

"Há invisuais a tropeçar nelas e há quem se mostre contra as trotinetes, atirando-as ao rio". Se ninguém fizer nada, "isto vai transformar-se numa selva", adianta.

Manuel Condez não concorda com coimas para quem abandona as trotinetes em qualquer local e considera que “têm de ser as empresas fornecedoras do serviço a encontrar uma solução”. Mas deixa transparecer a ideia que é sobretudo uma questão de civismo. E de respeito pelos outros.

E, não o fazendo, continuará a existir estacionamento indevido e abusivo de trotinetas elétricas por toda a cidade. Como é se resolve este problema?

Irónica, Maria Helena Barreiros deixa uma sugestão: “Acho que isto também se faz em São Francisco, nos Estados Unidos. Porque é que não telefonam para lá, a perguntar como resolveram o problema?”