Porque é que as urgências hospitalares são mais procuradas do que os Centros de Saúde? A Renascença falou com a Associação de Administradores Hospitalares e com a coordenadora de uma Unidade de Saúde Familiar.

Os hospitais dispõem de meios de diagnóstico eficazes, os Centros de Saúde não. E nem o aviso da Direção-Geral da Saúde, de que ir a uma urgência envolve o risco de contrair uma qualquer infeção hospitalar, incentiva os utentes a irem primeiro à Unidade de Saúde Familiar. Nem sequer a existência de taxas moderadoras mais baixas.

Para responder a esta pergunta é necessário colocar, desde já, uma segunda questão: porque é que os casos menos graves não são de imediato reencaminhados da triagem hospitalar para os centros de saúde?

O presidente da Associação de Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, explica à Renascença que "há o direito à saúde que permite a cada doente escolher o local em que é assistido”.

“Foram criados incentivos para a descentralização dos cuidados, desde logo nas taxas moderadoras. O essencial é perceber que serviços os Centros de Saúde não oferecem e existem nos hospitais. É importante criar condições em alguns Centros de Saúde, principalmente em grandes centros urbanos, de maior capacidade resolutiva...nomeadamente exames de química seca ou de um raio x." Essa é uma decisão técnica e política, reconhece Alexandre Lourenço.

Já Ana Castanheira, coordenadora do Centro de Saúde de Serpa Pinto, no Porto, considera que existe "um certo deslumbramento, dos utentes, pelos exames e meios tecnológicos, que muitas vezes nem são necessários".

Hospitais recebem financiamento por episódio nas urgências, os Centros de Saúde não

Ana Castanheira refere que, em 2018, em especial durante o pico da gripe, o hospital de referência desta unidade de saúde "devolveu parte dos casos menos graves aos cuidados de saúde primários".

Porque é que não acontece mais vezes? Na resposta, Ana Castanheira anexa à sua explicação uma variável menos conhecida: os hospitais recebem financiamento por cada doente atendido na urgência.

"É sabido que os hospitais dependem muito dos seus serviços de urgência e existe um financiamento por cada doente observado. E isso não existe nos cuidados de saúde primários", sublinha a responsável.

Ana Castanheira admite que, por vezes, os hospitais podem não estar interessados em reenviar os casos menos graves para os Centros de Saúde.

Mas essa é uma tese contrariada, na Renascença, pelo presidente da Associação de Administradores Hospitalares.

"Os hospitais recebem um financiamento por episódio de urgência, contudo esses valores têm sido reduzidos até para criar incentivos à procura dos Centros de Saúde. Quanto mais acesso de doentes existir aos serviços de urgência, mais recursos serão necessários e com muito mais custos para as instituições hospitalares. Daí que será útil, financeiramente também, que exista um menor afluxo de doentes à urgência”, argumenta Alexandre Lourenço.

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