No Hospital de Santa Maria, em Lisboa, grande parte dos casos que dão entrada nas urgências não são urgentes. “Há dias em que temos 56% de triagem verde e azul, ou seja, há 56% dos doentes que não deviam estar ali, mas num hospital menos diferenciado ou, sobretudo, no seu centro de saúde”, diz o presidente do conselho de administração do Centro hospitalar Lisboa Norte.

Carlos Martins defende uma reorganização do sistema, incluindo o sistema de triagem, de modo a reencaminhar os doentes para os cuidados primários.

“O hospital deverá fazer isso no futuro ou então encontrar soluções integradas com os centros de saúde”, afirma na Renascença, adiantando: “Não é o médico de família dentro da urgência hospitalar; provavelmente vamos ter de encontrar espaços diferentes de resposta a esses doentes."

Apostar em mais cuidados paliativos e continuados, “sobretudo de proximidade” é a fórmula apontada para aliviar os grandes hospitais, que todos os invernos são confrontados com milhares de utentes nas urgências.

“Temos de encontrar uma nova organização dos cuidados de medicina familiar. Antigamente, tínhamos sempre esta dicotomia: os cuidados primários e os hospitalares. Eram dois pilares. Neste momento, não são dois, mas três ou quatro e há um que tem de crescer forçosamente: os cuidados continuados e paliativos. Os hospitais têm de ser a última resposta do sistema”, defende Carlos Martins.

Mais casos na saúde mental obriga a obras

Em entrevista no programa Carla Rocha – Manhã da Renascença, o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte admite que o serviço de psiquiatria do Hospital de Santa Maria tem estado sujeito a grande pressão, com doentes obrigados a ficarem em macas por falta de camas.

O problema vai ser resolvido, garante. As obras já anunciadas vão arrancar em breve. “É inevitável porque, infelizmente, fruto até da situação económico-financeira do país, tivemos um crescimento também na área da psiquiatria e saúde mental”, refere.

Orçada em dois milhões de euros, a intervenção vai obrigar à transferência temporária do serviço para o Hospital Pulido Valente.

Além disso, Carlos Martins aponta o sucesso alcançado nas Caldas da Rainha. “Conseguimos fazer algo de que nos orgulhamos muito, que foi refundar o serviço de psiquiatria e saúde mental nas Caldas da Rainha, com profissionais nossos. Durante um ano, enviámos profissionais todos os dias e conseguimos consolidar jovens médicos nas Caldas, que têm o seu serviço”.

“Isso aliviou-nos um pouco, mas não foi essa a resposta que consideramos como ideal e é por isso que vamos investir dois milhões e meio”, conclui.

O dinheiro não deverá ser problema. Em 2016, “tivemos finalmente equilíbrio financeiro” e “o melhor resultado desde que foi criado o centro hospitalar”, reconhece.

Para este ano, “os objectivos são ter um ano melhor do que o ano passado” e fazer “mais e melhor do que fizemos em 2016, ao serviço do país e sobretudo nesta missão pública que muito nos orgulha”, resume.


Carlos Martins, 55 anos

O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte é algarvio, de Portimão, e licenciou-se no Minho, em Relações Internacionais.

Foi secretário de Estado da Saúde no governo de Durão Barroso (2012) e colocou o lugar à disposição depois da morte de um doente com aneurisma, enquanto esperava por uma cirurgia no Hospital de São José, em Lisboa.

Garante que conseguiu reequilibrar as contas do Hospital de Santa Maria, que chegou a estar em falência técnica.

O cinema é o seu maior passatempo e tem fobia à displicência – é um perfeccionista. É casado e tem dois filhos.