O presidente do sindicato que representa os inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) considera que os casos de fuga nos aeroportos são inevitáveis – em Portugal ou em qualquer parte do mundo – mas diz que as características da gare de Lisboa facilitam que tal aconteça.

“O aeroporto de Lisboa é um excelente centro comercial, mas como aeroporto não é funcional. Há que assumi-lo e dizê-lo com toda a frontalidade”, afirma à Renascença.

Acácio Pereira é um dos convidados desta semana do programa Em Nome da Lei, emitido aos sábados entre o meio-dia e as 13h00.

“Até agora, as pessoas ainda não o disseram, não sei se por vergonha, se por medo ou outros quaisquer interesses”, mas o aeroporto de Lisboa, “como infra-estrutura aeroportuária, deixa muito a desejar em termos de funcionalidade”.

Esta sexta-feira, ficou-se a saber que um dos argelinos que, em Setembro, fugiu do aeroporto de Lisboa, conseguiu escapar porque elementos do SEF o autorizaram a sair para fumar.

O sindicalista do Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF (SCIF) não conhece o caso em concreto, mas considera que “em todas as situações há falhas”. Ainda assim, no caso de Lisboa, trata-se de “um aeroporto que foi construído no século passado, concebido para a realidade do século passado e que não está adequado à realidade do século XXI”.

“Os aeroportos nacionais estão neste momento subdimensionados para a realidade actual”, defende.

De acordo com o ofício do responsável pela Divisão de Segurança Aeroportuária da PSP, a que a Renascença já teve acesso, o cidadão argelino foi autorizado a ir fumar fora da área internacional, ao piso 6, e, a partir daí, fez todo o percurso normal de qualquer passageiro até chegar à via pública.

O mesmo documento indica que o homem passou por todos os controlos do SEF e da Autoridade Tributária sem ter sido detectado.

O caso ocorreu a 27 de Setembro e deu origem a dois inquéritos (interno e crime), que ainda decorrem. Na altura, quatro magrebinos conseguiram quebrar a segurança e entrar ilegalmente em Portugal. O cidadão argelino em causa é identificado como Mohamed A. I.

“Temos de impedir a multiplicação destes casos”

Outro convidado do Em Nome da Lei deste sábado é o eurodeputado Carlos Coelho, recentemente eleito presidente da “Ask Force” do Parlamento Europeu, que vai fiscalizar todas as fronteiras da União Europeia.

O português concorda que Portugal tem poucos casos de fuga, mas avisa que ainda assim há riscos.

“Sempre que há alguém que consegue entrar irregularmente num Estado-membro da União Europeia pode arrastar outros, seus concidadãos, que inspirados por um caso de sucesso queiram imitar para ver se têm a mesma sorte”, diz.

“Por essa razão, temos de impedir a multiplicação desses casos, embora tenda a concordar que os casos conhecidos em Portugal são relativamente limitados e não devem suscitar uma percepção pública de perigo. Mas têm de ser estudados e prevenidos, para que não se repitam”, reforça.

A segurança nos aeroportos é o tema do próximo Em Nome da Lei.

O caso do argelino deu origem a dois inquéritos, um interno e outro crime.