O Governo da África do Sul está a considerar enviar mais 25 mil militares para o terreno na tentativa de restaurar a ordem pública no país, anunciou a ministra de Defesa, Nosiviwe Mapisa-Nqakula.

A governante sul-africana, que se reuniu online com o Comité Conjunto de Defesa do Parlamento, na noite de quarta-feira, sobre a atual situação da insegurança que prevalece pelo sétimo consecutivo no país, referiu que o reforço militar aguarda aprovação do Conselho Nacional de Segurança e do Presidente da República, Cyril Ramaphosa.

"Submetemos agora mesmo [19h00 locais] um pedido para sejam destacados cerca de 25 mil militares. Estamos a tentar encontrar uma solução de meio termo entre os 75 mil [proposta dos partidos da oposição] e os 10 mil efetivos propostos pelo Presidente da República e por isso vamos começar com os 25 mil", disse a ministra da Defesa.

A Força Nacional de Defesa (SANDF, na sigla em inglês) convocou todos os militares na reserva, noticiou esta quinta-feira a imprensa local.

Por seu lado, a ministra em exercício na presidência sul-africana, Khumbudzo Ntshavheni, disse, em comunicado, que cinco mil militares se encontram no terreno para conter os distúrbios violentos, saques e intimação que se intensificaram pelo sétimo dia consecutivo em Gauteng e KwaZulu-Natal, alastrando-se a outras regiões do país.

"Atualmente, há cinco mil membros da SANDF já no terreno. Os agentes da polícia, apoiados pelos militares, estão a trabalhar incansavelmente para garantir que o país retorne à paz e estabilidade e que os responsáveis pela instabilidade sejam rapidamente levados à Justiça", referiu.

Prisão de Zuma provoca saques alimentares e vandalismo em escolas

Um primeiro contingente de 2.500 efetivos das Forças Armadas (SANDF, na sigla em inglês) foi destacado na segunda-feira em várias áreas de Gauteng e KwaZulu-Natal para ajudar a Polícia a conter ações violentas aparentemente relacionadas com protestos de simpatizantes do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), contra a prisão do ex-Presidente Jacob Zuma e ex-líder do partido no poder, do qual Ramaphosa é também presidente.

Todavia, o número de efetivos militares e policiais mostrou-se aparentemente insuficiente para conter as ações violentas de pilhagem, vandalismo e intimidação no terreno.

O Governo continuou a exortar esta quinta-feira os sul-africanos à calma e a resistirem a qualquer tentativa de incitamento à violência ou alimentar divisões no país.

No KwaZulu-Natal, os residentes uniram-se em grupos armados depois de mais uma noite de tumultos, saques e vandalismo, nomeadamente no norte da cidade portuária de Durban, onde as pessoas procuram desesperadamente por abastecimentos alimentares, segundo a imprensa local no litoral do país.

Pelo menos 32 estabelecimentos de ensino foram saqueados e vandalizados, segundo as autoridades de Ensino no KwaZulu-Natal.

Em várias partes da Grande Joanesburgo, já não existe combustível e a escassez de alimentos e bem essenciais é visível nas prateleiras das grandes superfícies, relataram à Lusa vários residentes na manhã de hoje.

Na quarta-feira, em reunião com o Presidente Ramaphosa, os partidos políticos com assento parlamentar caraterizaram a situação no país como "um atentado à ordem democrática que exigia uma resposta multifacetada a longo prazo, face aos profundos níveis de desemprego e pobreza", destacando no imediato o reforço no terreno dos efetivos militares das Forças Armadas.

As críticas à reposta do Governo do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) do Presidente Cyril Ramaphosa, que é também presidente do partido no poder na África do Sul desde 1994, sobem agora de tom após uma semana de violentos tumultos.

O Aliança Democrática (DA, na sigla em inglês), principal partido na oposição, instou o governo a garantir que o reforço militar seja utilizado para proteger a segurança das cadeias de distribuição alimentar, médica e de combustível no país.

Pelo menos 72 pessoas morreram e cerca de 2.400 foram detidas até quarta-feira em distúrbios violentos, saques e ações de intimidação, na África do Sul, depois da prisão do antigo chefe de Estado por desrespeito a uma ordem do Tribunal Constitucional, na passada quarta-feira à noite, divulgou a Polícia sul-africana.

Estima-se que vivam cerca de 450 mil portugueses e lusodescendentes na África do Sul, mas segundo o Governo não há cidadãos nacionais entre as vítimas, havendo apenas registo de danos materiais, sobretudo em estabelecimentos comerciais propriedade de portugueses.