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O ataque dos Estados Unidos, França e Reino Unido à Síria está a ser ensombrado pela invasão do Iraque em 2003, na altura justificada com o pretexto da existência de armas de destruição maciça que, todavia, nunca apareceram.

Na madrugada deste sábado os Estados Unidos, França e Reino Unido lançaram um ataque coordenado à Síria, respondendo a um alegado ataque com armas químicas em Ghouta, nos arredores de Damasco. As forças ocidentais dizem que atingiram três alvos, responsáveis por fabricar e transportar as armas químicas do regime de Bashar al-Assad.

Contudo, as muitas vozes críticas ao ataque que entretanto se têm feito ouvir não deixam esquecer que estes mesmos governos têm um historial de mentir sobre estes assuntos, apontando sempre o exemplo do Iraque em 2003, e manifestam sérias reservas sobre a veracidade do ataque em Ghouta e da necessidade real destes raides aéreos.

Numa nota divulgada este sábado, pouco depois de o Ministério dos Negócios Estrangeiros ter vindo dizer que compreende o ataque levado a cabo por países aliados e amigos, o PCP publicou uma nota em que lembra “que os EUA, o Reino Unido e a França foram responsáveis por guerras de agressão com o seu brutal legado de morte, sofrimento e destruição, sob o pretexto de escandalosas e graves falsidades e mentiras, como as inexistentes 'armas de destruição massiva' no Iraque”.

Sem invocar diretamente o caso iraquiano, o Bloco de Esquerda também lança dúvidas quanto à veracidade do argumento invocado. Numa nota, o BE considera que o uso de armas químicas na Síria é "absolutamente inaceitável e deve ser investigado", mas afirma também que "este ataque não resulta de nenhum apuramento real e foi feito à margem das Nações Unidas".

Cristãos sírios contra o ataque

O regime sírio naturalmente alinha também neste discurso, mas outras vozes sírias também. O arcebispo de Alepo, Antoine Audo, que é também presidente da Cáritas daquele país, sublinha o facto de não fazer qualquer sentido Bashar al-Assad gasear civis em Ghouta quando estava já à beira de dominar completamente o enclave, outrora dominado por rebeldes. Em declarações à TV 2000, da Conferência Episcopal Italiana, Audo recorda a fraude iraquiana e lamenta que “os americanos e os russos usem a Síria como pretexto para fazer a guerra e defender os seus interesses internacionais”.

Os cristãos na Síria tendem a apoiar as Forças Armadas daquele país na sua luta contra os rebeldes, que em grande parte são constituídos por grupos jihadistas. Os patriarcas de Antioquia, das Igrejas Greco-Ortodoxa, Ortodoxa Síria e Melquita, que representam a esmagadora maioria dos fiéis na Síria, apelidam o ataque de “agressão brutal” e recordam que as acusações de que foram usadas armas químicas carece de qualquer prova independente.

A posição de muitos cristãos com raízes no Médio Oriente é ecoada por Nuri Kino, um jornalista e ativista pelos direitos desta comunidade, que reside na Suécia, que escreve no Facebook: “Não se esqueçam que os Estados Unidos afirmaram que havia armas químicas no Iraque, acabou por se revelar mentira mas o Iraque foi destruído para sempre e é agora um país em caos”.

No Reino Unido a oposição política pediu encarecidamente a Theresa May que evitasse ser levada pelo belicismo de Donald Trump, evitando os erros de 2003. Este sábado Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, lamentou que o Parlamento não tivesse sido consultado.

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