O eurodeputado Paulo Rangel, vice-presidente do Partido Popular Europeu (PPE), revela que alguns dos mais conhecidos partidários da saída do Reino Unido da União Europeia (UE) já fizeram pedidos de extensão de prazos do processo de transição. Após a invocação do artigo 50 do Tratado de Lisboa, o processo tem dois anos para se completar.

No programa "Falar Claro", da Renascença, o social-democrata assegura que a pretensão dos políticos britânicos até por ser bem acolhida por Berlim.

"Tanto Cameron ou Osborne, que claramente estavam do lado da permanência do Reino Unido, como o próprio Boris Johnson, Michael Gove e outros, já estabeleceram contactos a pedir uma extensão dos prazos, a dizer que as coisas talvez já não devessem ser bem assim. E a Alemanha, em particular, está alinhada com os britânicos na ideia de estender isto o mais possível", afirma Rangel, no debate semanal de temas políticos na Renascença.

Saída amigável e sem castigo

O deputado do PSD no Parlamento Europeu sublinha que essa não é a sua posição sobre o que deve ser feito face ao desejo de saída do Reino Unido da UE.

"Defendo uma solução mais rápida. Não defendo uma extensão, mas uma solução o mais amigável possível. Sem dar um estatuto privilegiado aos ingleses - não devemos colocá-los melhor que os suíços ou os noruegueses -, a solução deve respeitar a vontade do referendo sem hostilidade, procurando manter ao máximo os laços com o Reino Unido", explica Paulo Rangel, que esta semana ocupou a cadeira habitualmente preenchida por Nuno Morais Sarmento.

Já José Vera Jardim rejeita uma estratégia castigadora de Bruxelas face a Londres. "Não pode haver intervenções zangadas de castigo. A intervenção do senhor Juncker, por quem tenho apreço, não me pareceu das melhores, como alguns líderes em Bruxelas que disseram."

Europa não tem culpa

Os dois comentadores do "Falar Claro" argumentam que as orientações político-económicas de Bruxelas não são a causa da decisão dos britânicos expressa em referendo na última quinta-feira.

"Ao contrário de outros países, em que houve uma 'austeridade austeritária', as medidas que foram tomadas e que se diz que estão pensadas na Grã-Bretanha - como no Serviço Nacional de Saúde - não são imposições da Europa. Pelo contrário, a política social europeia tem vindo a ser de certo modo desgastado pelas políticas de direita na Grã-Bretanha", observa Vera Jardim, num tópico de concordância com o social-democrata Paulo Rangel.

O eurdodeputado diz que a Europa é menos responsável pela situação do que noutros casos que identifica no mapa dos 28. "Em crises como na Grécia, em Portugal, eventualmente, na questão austríaca, na subida da direita na Dinamarca ou na Suécia, ou na Polónia e na Hungria, a Europa pode ter alguma responsabilidade", reconhece Rangel.

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