Os jogadores da equipa de benjamins da Escola de Futebol do Benfica Alta de Lisboa/UDAL ficaram quietos em campo durante os primeiros três minutos de um jogo da IberCup, no Estoril. A atitude de sete meninos de dez anos de idade foi tomada em protesto contra a autorização de utilização, por outra equipa, de jogadores de idade superior à categoria.

O momento invulgar foi protagonizado na quarta-feira, em jogo dos oitavos de final do torneio, que é um dos maiores de futebol infantil do mundo. Em causa estava o último jogo da fase de grupos, em que se disputava a liderança do grupo D da categoria 2008. O FC Valeo, dos Estados Unidos, bateu a UDAL por 6-5, com um golo nos últimos segundos de jogo.

O que revoltou a equipa portuguesa, contudo, foi o facto de a equipa norte-americana ter utilizado pelo menos um jogador nascido em 2007.

Apelo à justiça e à verdade desportiva

Em declarações à Renascença, o treinador e coordenador técnico da UDAL, Tiago Viegas, explica que a equipa norte-americana alegou à organização que tinha poucos atletas para jogar futebol de sete. “Tinham dez atletas, o que a meu ver é mais do que suficiente, até porque existem equipas, como a nossa, que tinham inscrito nove atletas e participaram lindamente”, observa.

A verdade é que os regulamentos, conforme constam no site oficial do torneio, preveem que uma equipa de futebol de sete pode pedir autorização especial para utilizar jogadores de idade acima do escalão em que participa. No entanto, a UDAL também protesta que houve um jogador em campo que não constava na ficha de jogo. Situação que não é permitida pela IberCup. Porém, não houve qualquer penalização para o FC Valeo, que fruto daquela vitória ficou isento de participar nos “oitavos” e avançou para os “quartos”.

Por outro lado, a UDAL sofreu cinco golos durante os três minutos de protestos, no jogo seguinte, frente ao RB6 School Soccer, e acabou por ser eliminada, com uma derrota por 13-2.

“Não acho correto nem acho justo que a minha equipa seja penalizada por outra equipa que não cumpriu os regulamentos. Assim sendo, qualquer equipa pode utilizar atletas mais velhos, o que não corresponde à verdade desportiva”, critica Tiago Viegas, que considera que, como “agentes educadores”, todos os envolvidos num torneio do género devem ter maior atenção a estas situações, porque “acabam por influenciar a educação e os princípios” com que os jogadores crescerão:

“Isto não é ganhar a todo o custo. Não há necessidade de ultrapassar as regras para atingir os fins. No final de jogo, é importante os atletas irem de consciência tranquila porque deram o máximo, seja for o resultado”.

Dos pais, passando pela escola até aos jogadores

A ideia do protesto partiu dos pais, agastados com uma situação que a equipa já tinha vivido no fim-de-semana anterior, noutro torneio. A escola apoiou. Quanto aos jovens atletas, após conversas com os pais e com a escola, “acabaram por compreender e aceitar” a iniciativa.

“Eles próprios se sentem um bocadinho revoltados, porque acabam por jogar sempre com atletas mais velhos. Isso acaba por desmotivá-los”, assinala Tiago Viegas.

No final de contas, o treinador aponta o dedo ao FC Valeo, que “nem devia ponderar jogar com atletas mais velhos”, e à organização da IberCup, pela falta de controlo sobre as idades. Deixar de participar está fora de questão, mas a UDAL espera ver mudanças: “Gostaríamos que a organização da IberCup pudesse alterar esse aspeto e que, no futuro, fosse mais rigorosa. Todos erramos, agora há que aprender com os erros e evoluir e melhorar, para que os erros não se voltem a cometer”.

IberCup reage e remete aos regulamentos

Contactada pela Renascença, a organização da IberCup contesta os argumentos da equipa lisboeta. Esclarece que, após análise minuciosa das fotografias enviadas pelos responsáveis da UDAL e, "de acordo com o regulamento do Torneio e deliberação conjunta do comité organizativo", não considerou existirem motivos para protesto ou sanção ao FC Valeo.

A organização lembra que os jogadores não são obrigados a usar o mesmo número na camisola durante todo o torneio e que um jogador pode representar a mesma equipa em escalões diferentes, desde que não represente um clube diferente. E recorda que as equipas podem pedir autorização especial prévia para utilizar jogadores mais velhos.

"Convém também referir que após verificação do 'line up' por parte do responsável de campo, o nome do atleta estava contemplado na ficha de jogo e, como tal, habilitado a jogar", remata a organização da IberCup, em comunicado.

[notícia atualizada a 7 de junho, às 15h46 - organização da IberCup reage]