Há um ano, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicou um relatório nada otimista sobre o sector automóvel em Portugal. Um sector assente em segmentos de baixo valor acrescentado e baixos custos, utilizando tecnologias dos motores de combustão. A OIT alertava para que a transição para o fabrico de automóveis movidos a eletricidade tardava no país. E a OIT lembrava ainda que o fabrico de carros elétricos é menos trabalho intensivo do que o fabrico de carros com motores de combustão.

Passado um ano, a situação em Portugal não é tão negativa. Em março passado a fábrica de Mangualde anunciou que em 2025 começaria a produzir carros movidos a eletricidade. Esta fábrica produz carros de quatro marcas – Peugeot, Citroen, Fiat e Opel.

Na semana passada o diretor-geral da Autoeuropa anunciou que a fábrica de Palmela, da Volkswagen, vai produzir, a partir de 2025, veículos híbridos, com motor de combustão e motor elétrico, com bateria. A Comissão de Trabalhadores da empresa tem esperança de que, depois de um híbrido, venha um automóvel 100% elétrico.

A Autoeuropa continuará a apostar no modelo T Roc, o modelo da VW mais vendido na Europa, que agora é produzido apenas em Palmela e na China. Será o único modelo fabricado em Palmela, numa unidade onde a Volkswagen investirá mais de 600 milhões de euros. Em entrevista ao jornal Público, Thomas Hegel Gunther, diretor-geral da Autoeuropa, mostrou-se convicto de que a nova tecnologia não irá reduzir o atual efetivo de 5 mil trabalhadores na empresa.

O investimento na fábrica de Palmela também visa reduzir em 80% a emissão de CO2 até 2030. A Autoeuropa, que está em Portugal há 32 anos, tem sido uma unidade fabril muito importante para as exportações e para a utilização de inúmeras peças e componentes de produção nacional.

Mas a transição energética não se resumirá aos grandes produtores de automóveis. Sabe-se que os carros elétricos requerem bastante menos manutenção do que os carros com motores de combustão. O que representa um problema para as centenas de oficinas de reparação automóvel que existem pelo país fora. Problema do qual o Estado não se deve alhear.

Francisco Sarsfield Cabral