Na sua habitual de quinta-feira da semana passada o BCE anunciou que iria comprar 120 mil milhões de títulos de dívida, pública e privada. Mas, na noite de quarta para quinta-feira desta semana, o BCE realizou uma reunião de emergência. No final anunciou ir gastar mais 750 mil milhões de euros na compra de dívida, pública e privada, dos países do euro. E Lagarde declarou não haver limites para o apoio do BCE aos países do euro. Fez lembrar Draghi, em 2012...

Trata-se de uma quantidade excepcional de dinheiro. Os mercados reagiram em sentido positivo. Os juros da dívida de Itália desceram, bem como os de Portugal e os da Grécia. A dívida grega não era considerada nos programas anteriores, mas passou a ser abrangida por esta bazuca do BCE.

Porquê esta viragem do banco central da zona euro? Primeiro, porque percebeu que os danos económicos da pandemia serão brutais. Depois, porque, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do BCE da semana passada, C. Lagarde cometeu uma “gaffe”: disse não ser missão do BCE travar o alargamento do diferencial de custo das dívidas públicas dos países do euro. Desde que a crise do vírus começou, os juros das dívidas dos países da Europa do Sul, como Itália, Grécia, Espanha e também Portugal, começaram a subir em relação aos juros pagos por dívidas da Alemanha, por exemplo. Por isso as palavras de Lagarde foram entendidas nos mercados como uma indicação de que o BCE iria deixar cair a Itália.

Na altura, Lagarde tentou corrigir o que disse, mas sem grande efeito. Daí esta inesperada e bem-vinda decisão.

É uma boa ajuda do BCE, mas que não dispensa os países do euro, que possam gastar dinheiro do Estado, de o fazerem e depressa. A bazuca monetária do BCE não chega: continua a ser indispensável uma bazuca orçamental.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus.