Amanhã, numa cimeira em Londres, a NATO celebra 70 anos, feitos em Abril. Mas não haverá muito para festejar: a Aliança Atlântica não estará em “morte cerebral” (como classificou Macron a crise atual) mas atravessa um momento difícil. Paradoxalmente, em boa parte por causa do seu sucesso, ao enfrentar o expansionismo soviético, ganhando a guerra fria.

A NATO nasceu em 1949. Três anos depois surgia a primeira tentativa (falhada) de criar uma defesa europeia, juntando os velhos inimigos francês e alemão: a Comunidade Europeia de Defesa (CED), integrando os seis países que haviam constituído a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Os EUA estavam interessados nesta iniciativa, que permitiria rearmar a Alemanha Ocidental sem suscitar demasiados receios. Mas a CED não passou na Assembleia Nacional francesa em 1954, graças aos votos de comunistas e de partidários do general de Gaulle.

Nas décadas seguintes os americanos ficavam quase sempre nervosos quando se punha a hipótese de uma defesa europeia, temendo que ela desvalorizasse a NATO. Por seu turno, os países europeus instalaram-se à sombra do poderio militar americano – era mais cómodo e mais barato do que investir na área da defesa.

Acontece que Trump mudou quase tudo. Começou por considerar a NATO “obsoleta”. Depois, não só exigiu dos europeus que gastem mais na área militar (no que tem razão e presidentes americanos anteriores já o haviam solicitado, mas com menor convicção), como permitiu dúvidas sobre se o presidente dos EUA cumpriria o art.º 5º do tratado da Aliança: um ataque a um país da NATO é considerado um ataque a todos os membros da Aliança.

Macron insiste na urgência de uma defesa militar europeia, eventualmente fora do quadro da UE. Mas há quem veja na iniciativa do presidente francês uma intenção oculta de largar a NATO e de promover a influência de Paris na política europeia de defesa. Estas dúvidas manifestam-se sobretudo em Berlim, enquanto os países próximos da Rússia, como a Polónia, não querem perder o envolvimento americano na sua proteção – vejam-se a Ucrânia, a Crimeia e a Geórgia, onde os russos entraram militarmente. Ou os bálticos, que a Rússia ameaça veladamente.

Por outro lado, com o Brexit passa a existir na UE apenas uma potência nuclear, a França. Qualquer esboço sério de concretizar uma defesa europeia não poderá prescindir da participação britânica.

Entretanto, será prudente que os europeus olhem a sério para o fraco investimento que têm feito nas suas capacidades militares. Não é animador, por exemplo, que a Alemanha calcule que só daqui a 12 anos gastará na defesa os 2% do PIB a que os membros da NATO se obrigaram.

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