O problema orçamental da Itália não constava da agenda da reunião do Eurogrupo de segunda-feira passada. No entanto, terá dominado a reunião. M. Centeno, presidente do Eurogrupo, manifestou no final aos jornalistas alguma preocupação com o que se passa em Itália. E tem razões para isso, até porque Portugal será gravemente atingido por uma eventual crise do euro.

Ontem, o líder do movimento cinco estrelas e vice-primeiro ministro do governo de Roma, Luigi di Maio, declarou que, no orçamento para 2019, iriam ser ignoradas as reações dos mercados financeiros, nomeadamente as subidas nos juros da dívida pública italiana, que já começaram. “Não recuaremos um milímetro”, disse di Maio, numa escalada populista para tentar travar a queda do seu partido nas sondagens, enquanto o seu parceiro, a Liga, liderada por Salvini, tem subido. É um discurso que a extrema-esquerda repetiu vezes sem conta em Portugal.

O movimento 5 estrelas e sobretudo a Liga de Salvini são hostis à UE. Mas a maioria dos italianos, dizem as sondagens, não quer sair da UE nem abandonar o euro. Aliás, é sabido que em Itália predomina um acentuado desprezo pela classe política do país, havendo quem veja nas autoridades comunitárias uma certa compensação para a fraqueza do Estado italiano.

Ora, ao inverter a trajetória do esforço para reduzir o défice orçamental e a dívida pública de Itália (a segunda maior da zona euro), os juros dessa dívida sobem. Ontem, esses juros aproximaram-se de 3,5% na dívida a dez anos, com o “spread” face à dívida da Alemanha a tocar o nível mais alto desde junho de 2013. A dívida pública portuguesa sofreu algum contágio, mas ainda está abaixo de 2% a dez anos.

Mas, goste-se ou não dos mercados, o Estado italiano terá de financiar o seu défice. Simplificando, esse défice para 2019 é provocado porque a Liga quer baixar impostos e o movimento 5 estrelas pretende subir apoios sociais. Excelentes intenções, mas quem as paga? O grande risco está em que a dívida pública italiana seja considerada “lixo” pelas agências de notação financeira, os investidores não arrisquem mais e o país entre em colapso por não conseguir vender dívida pública. Ora a dimensão da economia italiana torna impensável um resgate semelhante ao que trouxe a “troika” a Portugal, Grécia e Irlanda. No limite, poderá levar ao abandono do euro pela Itália e mesmo ao fim da moeda única.

O ministro das Finanças de Itália, Giovanni Tria, é um tecnocrata com a noção desses riscos, que aliás são perigosos para Portugal. O ministro Tria tenta evitar o pior, declarando aos colegas do Eurogrupo que a proposta orçamental italiana ainda não está definida. Mas Tria não manda.


Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus