Com menos votos do que se previa, Angela Merkel vai cumprir o seu quarto mandato como chanceler da Alemanha. Há quem pense que, a partir de agora, a reforma da União Europeia irá dar grandes passos em frente.

Merkel é europeísta. Ela é quem mais manda na Europa comunitária. Mas a chanceler não é uma líder, no sentido de impulsionar profundas mudanças – no seu país, na UE e na zona euro. Situando-se politicamente ao centro, Merkel segue em geral o sentimento da maioria dos alemães, mas discretamente, sem atitudes populistas.

Ora importantes reformas na UE implicariam alterações ao tratado de Lisboa, logo referendos em vários Estados membros. Haveria então sérias probabilidades de algum ou alguns desses países rejeitar o acordo obtido pelos governantes.

O grande problema da integração europeia está na perda da sua popularidade. É certo que, no corrente ano, muito por influência do “brexit” e das posições de Trump, foi recuperada alguma dessa popularidade perdida. Os adversários da UE não venceram em França nem na Holanda. Os europeus já perceberam ser irrealista esperar da América de Trump um incondicional apoio na segurança e defesa, ao contrário do que acontecia desde a II Guerra Mundial.

Mas ontem entrou no Parlamento federal um partido eurocéptico, hostil aos imigrantes, populista com traços neonazis. Uma novidade preocupante, pois se tornou na terceira força política da Alemanha.

Não vale a pena idealizar mudanças radicais na UE, como fez Juncker. Os tempos ainda não estão para isso, até porque países da UE, como a Hungria e a Polónia, têm tomado medidas antidemocráticas e não recebem refugiados. E Merkel sai politicamente enfraquecida destas eleições.

Por isso a prioridade reformista quanto à Europa comunitária deve ser relativamente modesta e concentrar-se em avanços que não envolvam alterações radicais: completar a união monetária, o que passa por Berlim aceitar nomeadamente um seguro comum dos depósitos bancários na zona euro; e concretizar pelo menos alguma coordenação de políticas económicas, levando a Alemanha (que tem o maior excedente externo do mundo, superior ao da China) a investir e a consumir mais, ajudando as importações provenientes de países como Portugal.

Reformas mais ambiciosas talvez fiquem bem em discursos, mas não mudam a realidade existente.


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