O consumidor pode pagar mais porquê?

O consumidor pode pagar mais por causa do aumento das chamadas tarifas de acesso. Tem a ver com o custo da eletricidade que é comprada aos produtores com “remuneração garantida”. Este termo mais não é do que o preço que foi estabelecido por contrato entre o Estado e os produtores.

Se o preço no mercado grossista estiver abaixo do valor desses contratos, é preciso pagar a diferença.

E é aí que entram os consumidores, imagino?

Sim, porque a diferença entre o valor que foi definido em contrato e o preço que está no mercado grossista constitui um sobrecusto para o sistema elétrico nacional.

Para este ano, o valor médio de referência definido foi de 88 euros por megawatt/hora. No primeiro trimestre, o valor no mercado grossista foi de metade, ficando pelos 44 euros.

É essa diferença que tenho de ajudar a pagar?

Sim, para evitar o que aconteceu em 2023, quando o défice tarifário foi de 2 milhões de euros. Para evitar que esse desvio sobrecarregue os preços em 2025, a ERSE, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, propôs fazer este ajustamento, aumentando as tarifas de acesso.

Cerca de 30% do consumo de eletricidade em Portugal tem a remuneração garantida, o tal preço que é fixado por contrato, que em tempos conturbados até pode proteger o consumidor: como fez, por exemplo, aquando da invasão da Ucrânia, pela Rússia, o preço da eletricidade disparou no MIBEL, o mercado ibérico de eletricidade, mas como Portugal tinha esse mecanismo, conseguiu que os consumidores não tivessem sentido uma subida tão grande.

Se apenas 30% do conusmo de eletricidade em Portugal tem a remuneração garantida, o que acontece com o resto?

O resto é em grande parte a chamada tarifa de energia, com base no preço que é praticado no mercado grossista.

Nos primeiros 3 meses do ano, o valor foi de 44 euros por megawatt/hora. Em abril, o preço médio desceu para os 13 euros, e neste mês os valores têm estado ainda mais baixos.

Amanhã, por exemplo, segundo o operador da eletricidade no mercado ibérico, o valor por megawatt/hora vai ser de 8 euros e 15 cêntimos. O preço desta componente tem estado a baixar.

Portanto, temos aqui duas variáveis com sentido oposto: as tarifas de acesso sobem e as tarifas de energia descem.

Não se podem anular uma à outra e assim, o consumidor não sentiria qualquer efeito na fatura?

A ERSE entende que sim e, por isso, na revisão excecional das tarifas de eletricidade, propõe uma descida de 0,1%. O que praticamente deixa a fatura na mesma.

Mas atenção: isto só é válido para os cerca de 900 mil consumidores que ainda estão no mercado regulado.

Quanto aos outros, têm de simular junto dos diferentes comercializadores para saberem qual oferece a tarifa mais barata. Há um simulador no site da ERSE que pode ajudar nesta tarefa.