É como uma cura que pode levar ao agravamento de uma doença crónica. Fernando Alexandre, professor de Economia da Universidade do Minho, alerta para o impacto das moratórias sobre o balanço dos bancos portugueses já deteriorados ao longo dos anos. O novo vice-presidente do Conselho Económico e Social lembra que Portugal não investiu tanto em termos proporcionais na resposta à pandemia por comparação com outros países europeus e sublinha as recentes previsões da OCDE que estima não apenas uma queda de 8,4% do Produto Interno Bruto e um crescimento de 1,7% e 1,9% em 2021 e 2022.

“Para além do 'layoff ', o mais relevante das medidas tomadas teve a ver com moratórias e com as garantias dadas para o crédito às empresas e às famílias. Isso representa um peso muito elevado no balanço dos bancos e é o terceiro mais elevado da União Europeia. Mais de 20% do crédito das empresas e famílias portuguesas está sob moratória. Isso vai repercutir no balanço dos bancos. E mais uma vez, se não tivermos uma recuperação da economia rápida e forte podemos vir a ter um problema na banca. E o facto de não termos uma partilha de risco entre a banca europeia, com a União Bancária, pode vir a ser um problema “, afirma o também coordenador da área económica da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) no programa “Da Capa à Contracapa” onde debateu as perspectivas económicas para as próximas décadas com o economista Pedro Lains, do Instituto de Ciências Sociais.

Fernando Alexandre considera que há uma grande mudança tecnológica a caminho de Portugal num contexto em que a Europa vai querer manter uma “soberania tecnológica e industrial” e tentar ser líder tecnológica em algumas áreas. O economista considera fundamental que Portugal tenha “capacidade de perceber essas mudanças e se posicionar para as aproveitar” e alerta que o nosso país “não tem muito espaço para falhar outra vez”, face ao contexto de dívida elevada e envelhecimento da população.

O coordenador da área económica da Fundação Francisco Manuel dos Santos considera fulcral que Portugal tenha uma estratégia bem pensada numa mudança que passa pelo sector dos serviços.“ A política de recuperação da Europa vai passar por uma reindustrialização que será diferente, muito imbrincada com serviços e produção de bens intangíveis , como software, design ou patentes”, alerta Alexandre no programa da Renascença em parceria com a FFMS.