A comissão de trabalhadores da TAP pede esclarecimentos urgentes sobre os polémicos prémios de desempenho, alguns dos quais superiores a 100 mil euros.

“A haver distribuição de prémios, de lucros, o que lhe quiserem chamar, deveria ser para todos efetivamente”, defende a coordenadora da comissão de trabalhadores, em declarações à Renascença.

Cristina Carrilho defende que “a igualdade entre trabalhadores está posta em causa” quando nem todos os trabalhadores são abrangidos “e claro que esta situação vai fazer com que existam ainda mais clivagens”.

No ano passado, a TAP teve um prejuízo de 118 milhões de euros. Contudo, decidiu entregar, este ano, bónus de desempenho avultados a administradores.

Os prémios totalizaram 1,171 milhões de euros e foram entregues a 180 pessoas, duas das quais quadros superiores, que receberam 110 mil euros com o salário de maio.

Um destes beneficiados terá sido Abílio Martins, ex-Portugal Telecom no tempo de Zeinal Bava, avança o jornal “i” nesta quinta-feira.

A seguir a prémios mais elevados, está um valor de mais de 88 mil euros pago a um dos quadros, um de mais de 49 mil euros e outro de 42 mil. Os restantes valores são todos iguais ou inferiores a 30 mil euros. Alguns tiveram direito a pouco mais de mil euros.

Entre a lista dos beneficiados consta, segundo o jornal “i”, o nome de Stéphanie Silva, mulher do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina. Stéphanie Silva trabalha no gabinete jurídico da companhia aérea portuguesa e, de acordo com o jornal, terá recebido 18 mil euros de prémio.

Segundo o coordenador do Sitava (Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos), a distribuição de prémios “nunca foi prática habitual” na TAP “e vai lançar a desigualdade entre trabalhadores pela falta de equidade”.

“Não entendemos isto, tendo em conta que num ano em que tivemos lucros [2017] os prémios foram distribuídos por todos”, num valor igual, acrescentou Paulo Duarte, em declarações à agência Lusa.

A companhia, por seu lado, não quis comentar "as suas políticas de mérito”.

Estado quer reunião de emergência

Esta distribuição de prémios não agradou aos administradores nomeados pelo Estado, que terão recebido a notícia com “bastante incómodo”, segundo avança o “Jornal de Negócios”.

Estes administradores detêm 50% do capital da TAP e já convocaram uma reunião extraordinária para analisar a decisão da comissão executiva, liderada por Antonoaldo Neves.

A reunião de emergência deverá ocorrer ainda nesta quinta-feira.

Em 2017, a companhia aérea teve mais 100 milhões de euros lucro, mas em 2018 foram os prejuízos a dar que falar.

"Tivemos um prejuízo líquido consolidado de 118 milhões de euros […]. Os resultados vão além do prejuízo, já que a empresa não causa impacto somente através do seu resultado financeiro”, afirmou Antonoaldo Neves.

“O ano de 2018 foi difícil para a TAP quer em termos operacionais, quer em termos económicos e financeiros, mas foi um ano que não comprometeu o nosso futuro. Um ano que nos permitiu continuar a criar raízes para que o plano estratégico possa ser implementado como previsto”, indicou, por sua vez, o presidente do Conselho de Administração da TAP, Miguel Frasquilho.

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