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​Um ano depois. Jovens portugueses e polacos voltam a encontrar-se

11 jul, 2017 - 11:49 • Olímpia Mairos

Os dois grupos conheceram-se na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Cracóvia e reencontraram-se no santuário de Nossa Senhora das Dores, no Paul, diocese da Guarda.

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O Centro Pastoral do Santuário de Nossa Senhora das Dores, no Paul, diocese da Guarda, foi o local de encontro - um encontro há muito desejado por polacos e portugueses que se conheceram e estabeleceram laços de amizade na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Cracóvia.

Da paróquia de Nossa Senhora Ostrobramskiej, na cidade de Chrzanów, acompanhadas pelo pároco, vieram 35 pessoas - crianças, jovens e adultos. Vieram em peregrinação a Fátima, mas também para se encontrarem com os jovens da diocese da Guarda que acolheram em suas casas e em outros equipamentos, aquando da JMJ.

A alegria do reencontro manifestou-se nos apertados e demorados abraços, nos sorrisos rasgados, nas lágrimas de emoção, nas possíveis conversas em inglês, com polaco e português à mistura, que pareciam não ter fim.

E no Paul estiveram três dias. Foi ali que encontraram casa e acolhimento. Partilharam experiências de vida, fizeram um ‘Remember’ das JMJ de Cracóvia, rezaram, conviveram… Visitaram a Serra da Estrela, Manteigas, Belmonte, Covilhã e Guarda. Sempre acompanhados por jovens da diocese da Guarda, coordenados pelo padre João Marçalo.

“Venham, por favor"

Julia tem 16 anos e já diz umas palavras em português, que aprendeu pela internet, para melhor comunicar com “os amigos portugueses”. E já consegue estabelecer pequenos diálogos. O resto vai colmatando com o inglês. “Depois da JMJ, era um sonho meu vir a Portugal. Estou a gostar muito das cidades que visitamos, mas, sobretudo, da hospitalidade e simpatia das pessoas”, conta à Renascença.

Julia quer vir estudar “jornalismo ou turismo para Portugal”, mas ainda não conseguiu convencer os pais, porque, diz, “como filha única, eles não me querem deixar, mas eu vou insistir porque quero muito vir”.

Joanna Szyndler não pára de sorrir. Tem 38 anos e veio com o marido e as duas filhas. Conhece bem os jovens da Guarda que acolheu na sua terra natal e com quem se veio encontrar. Para Joanna, as pessoas, em Portugal, “são muito acolhedoras”. “Estamos muito contentes por estarmos aqui”, diz, para, de seguida, exclamar “convosco, vem calma à minha alma!”.

E no encontro com os jovens portugueses, Joanna viu e aprendeu “muitas outras coisas a fazer na paróquia”. E exemplifica: “mais actividades para as nossas crianças, para os nossos doentes que não podem ir à igreja…”.

Joanna também gostou muito de estar em Fátima, onde, com o grupo, participou “na missa e no terço”. “E um nosso amigo” - conta – “foi com a cruz na procissão. E isto é muito importante para nós, um polaco levar a cruz aqui, em Fátima”.

Para Magdalena, 21 anos, que tem mantido contacto com os jovens da Guarda, através das redes sociais, a experiência do reencontro pessoal “fortaleceu os laços de amizade e comunhão”. Para a jovem, “as relações são também uma forma de fortalecer a fé e caminhar de mãos dadas, pois Jesus está presente no próximo e acompanha-nos todos os dias”, conclui.

David Pinheiro, de 26 anos é natural de Manteigas e, para ele, “o reencontro é algo fantástico. É sempre agradável. Não há muitas palavras... Encontrar pessoas que nos fizeram tanto bem, é algo que enche o coração”, confidencia.

O jovem Pedro Marçalo, natural da aldeia de Colmeal da Torre, concelho de Belmonte, tem 23 anos e destaca “a comunhão entre jovens de várias nacionalidades, que é a marca da JMJ”. Para Pedro, o acolhimento ao grupo de polacos é “uma forma de compensar e retribuir o acolhimento e a comunhão” que receberam, quando foram acolhidos em Chrzanów, para a Jornada Mundial da Juventude. “Nós, agora, procuramos compensar isso da melhor maneira e está a ser excelente”, diz a sorrir.

Joana Monteiro, natural da Covilhã, tem de 27 anos e recua atrás no tempo, para reviver experiências e sentimentos da JMJ. “Senti, na Polónia, uma comunhão muito grande entre nós. Senti que Deus age através das pessoas. Senti o amor de Deus de uma forma muito prática, real”, conta à Renascença.

Da JMJ “ficou um desejo muito grande de poder retribuir um bocadinho aquilo que eles fizeram por nós, lá. E surgiu a hipótese de eles virem até cá. E a resposta só poderia ser: - claro, venham, por favor! Nós queremos-vos cá e queremos tentar retribuir um pouco do amor que recebemos”, refere a jovem, emocionada.

Depois de Cracóvia. A semente germinou

A presença dos jovens portugueses deixou marcas na Paróquia de Nossa Senhora Ostrobramskiej, na cidade de Chrzanów.

Depois da JMJ “criou-se um espírito e uma dinâmica muito forte, porque, até ali, havia pessoas ligadas à Igreja, mas não havia, por exemplo, um grupo de jovens formado”, conta Alberto Salgueiro.

“As pessoas da paróquia conheciam-se só de vista e, agora, criou-se uma verdadeira comunidade”, realça. “Agora já temos um grupo de jovens e uma maior união entre todos”.

“Juntamo-nos muitas vezes, seja voluntários, jovens, pessoas que acolheram peregrinos, mas também toda a gente que está ligada à Igreja – acólitos, ministros da comunhão, membros do coro infantil, as senhoras do rosário vivo…”, conta.

Também Magdalena refere que “depois das JMJ se criou realmente a comunidade paroquial”. “As pessoas começaram a conviver mais umas com as outras, a sentirem-se mais família, a saber que pode contar mais umas com as outras, o que não acontecia antes”, observa.

A estudar em Cracóvia, Magdalena nota que actualmente “muitos mais jovens vão à Igreja e são activos” e dá como exemplo a Igreja dos universitários, junto ao Paço Episcopal, que “está quase sempre cheia”.

“A cidade abriu-se mais às pessoas de outros continentes e isso enriquece, porque partilhamos formas diferentes de vivenciar”, constata a jovem estudante.

Jovens empenhados em “sair do sofá” de cá e de lá

Alberto Salgueiro é de Galegos de Santa Maria, Barcelos. Está casado na Polónia há dez anos. Movido pelo desafio de “sair do sofá”, preparou e organizou toda esta peregrinação à Terra Lusa e manifesta-se “muito feliz por ter conseguido trazer este grupo”.

“Como português, vir a Fátima em ano de centenário foi um momento muito especial, como é muito especial este reencontro com os amigos que acolhemos lá, e que agora nos acolhem aqui”, diz.

Alberto retém na memória e no coração “o espírito de alegria, de convívio e de união dos portugueses” aquando da JMJ, realçando que “foi esse espírito que toda a gente admirou” e os “motivou a viver em comunhão e em partilha” na sua paróquia.

“E o fruto de tudo isso já é esta peregrinação”, refere o jovem. Contudo, o jovem português refere também a tristeza de não ter sido “possível trazer toda a gente”, explicando que a prioridade foi dada “aos que estavam dentro do espírito das JMJ, os que participaram como voluntários ou no acolhimento às pessoas ou na logística”.

Para os jovens portugueses que nestes dias acolheram os polacos, da JMJ permanece também “o desafio lançado pelo Papa de não sermos jovens presos no sofá”, refere Pedro Marçalo. “Em vez de calçarmos os chinelos, temos de calçar as botas. E este fim-de-semana tem sido o exemplo disso”, conta, feliz.

“Com estes jovens, tivemos a oportunidade de não ficarmos no conforto e meramente a conversar, mas saímos e fomos visitar vários sítios bonitos, emblemáticos, aqui à volta. Acolhemos o convite do papa de sermos jovens em saída, sem medo da aventura, prontos para os desafios que a sociedade nos traz”, conta Pedro.

“A fé não pode ser uma coisa fechada, não pode ser algo que guardamos para nós, no nosso cantinho, mas passa por esta comunhão, por esta comunidade que tentamos criar com estes jovens polacos”, conclui o jovem.

David Pinheiro nunca tinha participado nas JMJ. E de Cracóvia, diz, permanece “aquele sentimento de união, de uma Igreja que é universal, e uma ligação mais forte ao Santo Padre”.

Também para Joana Monteiro a marca é “a união, pela comunhão na fé”. “Perceber que a minha fé é vivida por muitos outros jovens em todo o mundo e que aquilo em que acredito é aquilo em que mais gente acredita, e é um motivo pelo qual muita gente dá a vida, leva-me a procurar fazer o mesmo”, confidencia à Renascença.

No encontro com os jovens de Manteigas, que participaram na JMJ, o grupo foi acolhido pelo bispo da Guarda. D. Manuel Felício, que na JMJ fez uma catequese sobre a misericórdia, precisamente na paróquia a que pertence este grupo, não escondeu também a alegria do reencontro.

“Revivemos a experiência de Julho passado. E ao reviver essa experiência que foi muito boa, pelo acolhimento que lá encontrámos, pelo entusiasmo dos jovens que nos receberam, agora vemos aqui uma certa transferência de entusiamos para as gentes da nossa terra”, refere à Renascença.

“Eles vêm trazer-nos alegria, entusiamo, para nós olharmos em frente e sabermos que a vida é futuro e presente”, realça o prelado, lembrando que é desejo da Igreja que as “JMJ animem e estimulem o entusiamo dos jovens”. “E este acontecimento é um sinal de que isto está a acontecer. A nossa vida é um caminhar conjunto pelos caminhos da vida”, conclui D. Manuel Felício.

Depois do reencontro ficam “lágrimas no canto do olho”, mas também a esperança de um reencontro, num futuro próximo, e o desejo de, à distância, alimentarem a comunhão.


A entrevista foi transmitida no espaço das 12h, na Renascença, que às segundas-feiras destaca os temas sociais e relacionados com a vida da Igreja.

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