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Richard Overy: "Crimes do estalinismo foram relativizados durante muito tempo"

12 dez, 2016 - 15:12

O livro "Os Ditadores - A Alemanha de Hitler e a Rússia de Estaline foi editado na semana passada em Portugal e é uma análise profunda sobre as ditaduras nazi e comunista.

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O historiador britânico Richard Overy, autor do livro "Os Ditadores", defendeu esta segunda-feira que os crimes do estalinismo, na ex-União Soviética, foram "relativizados" durante muitas décadas na Europa Ocidental.

"Ao contrário dos crimes da extrema-direita, os crimes do estalinismo foram relativizados durante muito tempo porque a União Soviética era encarada como um modelo de progresso e paz. Mesmo quando a verdadeira natureza do regime era exposta, as pessoas passavam por cima e viam as questões do regime como consequências de uma modernização rápida", disse o historiador Richard Overy, autor do livro, sobre as lideranças de Hitler e Estaline.

Para Overy, o conhecimento pormenorizado sobre o estalinismo ainda está "limitado à elite da comunidade académica", enquanto a visão sobre o Holocausto está totalmente integrada na "história pública".

Richard Overy, 69 anos, professor de História Moderna na Universidade de Cambridge e Exeter, Reino Unido, é especialista em temas relacionados com a Segunda Guerra Mundial e autor, entre outros, do livro "Os Ditadores", recentemente traduzido para o português.

O livro é uma análise profunda sobre as duas ditaduras, nazi e comunista, lideradas por Hitler (1889-1945), na Alemanha, e Estaline (1878-1953), na União Soviética.

A obra de Overy sobre os dois líderes que marcaram o século XX não se limita ao período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e analisa as raízes do totalitarismo nazi e comunista, além de traçar um longo perfil político e pessoal dos dois ditadores.

"A opinião pública identifica Hitler com os horrores e o genocídio da guerra global. O conceito de crime contra a humanidade está ligado ao nazismo. Por outro lado, Estaline deixou uma marca diferente. A ditadura estalinista ainda não é uma referência no que diz respeito aos crimes contra a humanidade e, na Rússia, a reputação de Estaline é ainda de um líder poderoso, na tradição do czar Pedro o Grande", acrescentou o historiador.

Richard Overy disse ainda à Lusa que, além de alguns arquivos classificados em Moscovo, já há poucas fontes disponíveis para o estudo da União Soviética durante o período da Segunda Guerra Mundial.

"Os historiadores já exploraram quase todos os ângulos sobre as duas ditaduras. Actualmente a tendência é o estudo sobre as experiências das populações que viveram debaixo das próprias ditaduras. Há ainda material muito interessante registado em diários, correspondência e testemunhos orais usados para a construção de imagem geral sobre o quotidiano dos povos submetidos a essas terríveis ditaduras", acrescentou Overy.

"Os Ditadores - A Alemanha de Hitler e a Rússia de Estaline" de Richard Overy (Bertrand Editora, 949 páginas -- tradução de Victor Antunes), incluiu mapas e fotografias e foi editado na semana passada em Portugal.

Comentários
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  • António Costa
    13 dez, 2016 Cacém 01:21
    Evidentemente que foram! Com os exércitos blindados soviéticos estacionados na Alemanha, não se brincava! Era o tempo da "Détante" e do "Dialogo Leste-Oeste". Do mesmo modo que os antifascistas só apareceram DEPOIS do Fascismo ter sido esmagado na II Grande Guerra a Ameaça Russa só é falada e repisada depois do gigantesco império da URSS se ter desmoronado como um castelo de cartas. Hoje ameaças tão graves, senão piores, continuam a existir, com os "grandes lideres" a continuar, a fingir que não veem. Tal como ontem, só se critica um regime totalitário depois de ele estar bem morto.
  • Alarico Aira Velha
    12 dez, 2016 Ourense 20:47
    Faltam outros quatro: Pio XII, Churchill, Truman, HIrohito
  • Manuel Sá
    12 dez, 2016 Porto 20:33
    Os russos sempre foram um povo sofredor. Veja-se a 2ª G.G.; os soldados eram lançados nas batalhas mesmo sem armas contra um inimigo forte. Se recuassem eram logo abatidos por comissários (isto para dar exemplo da mentalidade russa.) Estaline, realmente assassinou muitos milhões de inocentes. E não adianta haver ANDRÉS a andar por aqui a tentar branquear tais factos.
  • andre
    12 dez, 2016 coimbra 20:11
    carroças, este povinho precisa de carroças . carroças
  • P.C.
    12 dez, 2016 Almada 19:43
    Estaline um criminoso de guerra? Não digam isso que ainda vem o PCP chamar de fascista ao Sr. Richard Overy.
  • andre
    12 dez, 2016 coimbra 19:38
    estaline foi um grande lider. amado pelo povo TRABALHADOR, odiado pela escumalha capitalista e pro capitalista. hoje quem manda e escreve a historia, conta o que interessa...
  • Soldier
    12 dez, 2016 Carrazeda de ansiaes 19:33
    Hitler matou seis milhões em tempo de guerra. Estaline matou 15 milhões em tempo de paz. E já agora,mao matou sessenta milhões em tempo de paz também. O primeiro ê demonizado em todo mundo e com razão. O segundo e terceiro e respectivos herdeiros como o kim do coiso e aquele anão careca que mora no Kremlin são idolatrados por mais de metade de Portugal. Qual é a admiração que Portugal esteja na cauda da Europa e lá permaneça? Nenhuma!
  • Francisco Malveiro
    12 dez, 2016 Santiago do Cacem 19:08
    "limitado á elite da comunidade académica"" sempre conotada com a esquerda, daí o nunca denunciarem as atrocidades do comunismo, mas sempre, e digamos bem apesar de tudo, muito preocupados com o nazismo e toda e qualquer ditadura de direita. Se fosse ao contrário o Salazar não ficava cá para contar conforme o Cunhal ficou na ditadura do primeiro. Quer queram quer não o famigerado Hitler comparado ao Estaline foi um menino de coro, e o Salazar comparado aos dois foi um santo.
  • JK
    12 dez, 2016 Beja 18:55
    Alguma coisa está errada quando um professor de História Moderna na Universidade de Cambridge e Exeter, identificado como especialista em temas relacionados com a Segunda Guerra Mundial, classifica o regime nazi como extrema-direita... Querida Renascença, alguém que verifique por favor o original da Lusa.
  • Teixeira
    12 dez, 2016 Vila Real 18:50
    Os crimes de Estaline, Lenine e Mao, foram escondidos da população europeia ocidental, porque houve muita conivência dos partidos comunistas ocidentais, da imprensa e dos meios intelectuais que desejavam regimes comunistas no ocidente. Ainda há pouco tempo o antigo líder da bancada do PCP na Assembleia da República e actual presidente da câmara municipal de Loures, Bernardino Soares, disse que na Coreia do Norte, existia uma democracia. Assim se entende a democracia que quer o PCP.

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