29 nov, 2016 - 01:40 • Guilherme Correia da Silva, correspondente na Alemanha
É preciso pôr os pés na realidade e deixar de ter ilusões. O crescimento económico de 1,5% previsto pelo Governo de António Costa para 2017 está longe de ser suficiente, dizem dois economistas alemães.
Portugal está “falido”, diz Thomas Mayer. Segundo o ex-economista chefe do Deutsche Bank, é preciso chamar os “bois pelos nomes”. Basta olhar para a dívida pública portuguesa, superior a 130% do Produto Interno Bruto (PIB).
Se não fosse o rating acima de “lixo” de uma agência de notação financeira, a DBRS, Portugal estaria em maus lençóis, constata Mayer.
“Assim que a DBRS reduzir o rating, Portugal deixa de se conseguir financiar no mercado”, sublinha.
O crescimento económico previsto no Orçamento do Estado é baixo, afirma Thomas Mayer, que não é o único a dizê-lo. O Conselho das Finanças Públicas defendeu, em meados de Novembro, que o crescimento “não pode resultar apenas de estímulos à procura interna”. Mais do que medidas pontuais, será preciso uma “mudança de comportamentos”.
O ex-economista chefe do Deutsche Bank concorda. Afirma que, para Portugal ser mais competitivo, teria de prosseguir as reformas do anterior Governo de Pedro Passos Coelho, como também já disse publicamente o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble.
“Mais horas de trabalho, mercados de trabalho mais flexíveis, talvez uma taxa de desemprego mais alta temporariamente. Coisas que o Executivo anterior fez, mas não tiveram continuação. Resta então uma única alternativa, sair do euro”, defende.
Mas, para outro economista alemão, Daniel Stelter, diminuir salários e aumentar horas de trabalho está fora de questão.
“Se se reduzisse os salários, a crise agravaria e seria mais difícil pagar as dívidas. Imagine que compra uma casa em Lisboa. Antes ganhava 5.000 euros, mas passa a ganhar 3.000. Ia ter problemas”, argumenta.
Por isso, este ex-consultor do Boston Consulting Group propõe assumir a falência e reestruturar a dívida.
“O racional seria sentarmo-nos, reestruturar a dívida, fazer reformas. E olharmo-nos olhos nos olhos e perguntar: quem consegue aguentar o espartilho do euro e quem não consegue”, defende.
Para alguns, isso significaria sair do euro. Mas Stelter duvida muito que isso aconteça: Os governantes europeus vêem que o “rei vai nu”, mas ninguém o diz.
“Imagine que Angela Merkel se recandidata a chanceler e diz: ‘a propósito, o resgate do euro vai custar-nos 1 bilião’. Isso não seria muito popular”, conclui o economista.