26 ago, 2016 - 11:38 • José Pedro Frazão
Pedro Santana Lopes diz que o acordo com as instituições comunitárias sobre a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos é mais uma "geringonça" de António Costa que permite ultrapassar problemas com recurso a soluções engenhosas. O antigo primeiro-ministro assinala que o entendimento que permite injectar liquidez no banco público sem ser considerado uma "ajuda de Estado" tem a clara "inspiração política" do primeiro-ministro.
"Vamos de geringonça em geringonça, construindo várias soluções um pouco surpreendentes. Há aqui uma marca indelével do primeiro-ministro. Parece haver ao menos a sua inspiração política de procurar construir soluções engenhosas", afirma o antigo líder social-democrata no programa "Fora da Caixa", programa de debate semanal com António Vitorino na Renascença onde a agenda é dominada por assuntos europeus e internacionais.
Todo o processo de recapitalização da CGD, incluindo a nomeação de administradores, tem merecido duras críticas da oposição e em particular de Pedro Passos Coelho, líder do partido onde milita o actual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Acordo tem lógica
Santana Lopes considera que a argumentação de base tem uma lógica que nem a oposição parece contestar. " De facto foi um accionista a capitalizar o seu banco nos mesmos termos me que um privado o faria. Tem a sua lógica. É curioso que a oposição em Portugal veio pôr a questão sobre o custo da reestruturação ao nível dos balcões e do pessoal. Esta questão agora resolvida foi dada em certa medida como encerrada. E positivamente para Portugal", analisa Santana Lopes.
Neste modo de agir, Costa parece ultrapassar os problemas numa estratégia "funcionalista" onde a construção faz-se "solução a solução", assinala o antigo presidente do PSD. E até Mário Centeno merece um cumprimento.
"Devo dizer que o ministro das Finanças acaba de conseguir ele próprio um resultado que não se esperava. Se é responsável pelo mau, [aqui] o resultado final da negociação é positivo. Mas parece-me que há muito de António Costa nesta negociação", insiste Santana Lopes na Renascença.
Esperança para toda a banca
O antigo chefe de Governo considera que apesar deste acordo, há ainda muito trabalho por fazer no sistema financeiro português.
"Isto foi um lenitivo, um motivo de esperança [que] não era previsível. Há uma dose razoável de flexibilidade por parte de Bruxelas e Frankfurt. Foi surpreendente em certa medida, não é a característica máxima de Bruxelas e Frankfurt", observa o comentador da Renascença que acrescenta que as instituições comunitárias foram decisivas ao corresponder ao "engenho" do Governo português.
"Essa vontade resulta também de sentirem um pouco o 'lume' aos pés", resume Santana, numa referência aos múltiplos problemas que o sistema financeiro tem provocado na União Europeia.
Quanto ao processo de escolha de novos administradores da Caixa Geral de Depósitos, que incluiu um chumbo parcial do BCE, Santana reconhece que "o número total de administradores podia ser exagerado e [o processo] não foi muito bem conduzido". No entanto, a escolha de administradores com origem em sectores não- financeiros "faz sentido" e é "uma boa ideia".
Em remate, o actual Provedor da Misericórdia de Lisboa assinala que o resultado final do processo foi "positivo e agradável", na esperança de que seja "um pontapé de saída para um ciclo novo no sistema financeiro português".