22 abr, 2016 - 23:42 • José Pedro Frazão
As recomendações de política económica e financeira da Comissão Europeia, contidas no recente relatório de avaliação pós-programa da troika, são mais do mesmo e Portugal tem o dever de propor alternativas. A opinião é dos comentadores Pedro Santana Lopes e António Vitorino no programa "Fora da Caixa" da Renascença.
O antigo primeiro-ministro português reconhece coerência ao que Bruxelas defende quando propõe reformas como as do mercado de trabalho e da administração pública.
"Não vou citar um ditado português sobre quem é que aprende línguas, mas o saber é muito antigo. Lá há um certo tipo de saber, uma linha de política, económica e financeira em que a Comissão Europeia acredita", constata Santana Lopes, para quem António Costa pode também replicar com propostas alternativas.
"Também é admissível e faz sentido que o Governo português possa dizer que não está de acordo e que possa querer negociar e propor caminhos alternativos", afirma Santana Lopes no programa "Fora da Caixa" da Renascença.
Para António Vitorino, o processo de ajustamento dos últimos anos não parece ter constituído uma lição. "Para usar a expressão que o Pedro usou, o problema nisto não é o burro velho não aprender línguas. Não é por ser velho. É por ser burro. Aqui parece que ninguém aprendeu nada", argumenta o antigo comissário europeu.
Insensibilidade social de Bruxelas
O militante do PS critica a oposição de Bruxelas ao aumento do salário mínimo nacional, sublinhando ser uma proposta recorrente da Comissão Europeia.
"É um tipo de recomendação que revela uma enorme insensibilidade social. Ignora o significado da pobreza das pessoas que trabalham em Portugal, dos trabalhadores pobres. Acho que muito dificilmente um governo nacional pode concordar com uma burrice tamanha, para utilizar a mesma expressão", afirma Vitorino, que admite que há outras propostas que podem fazer sentido como a reforma da administração pública. "Tudo depende do que se entende por isso".
O antigo comissário europeu classifica este relatório como um aperitivo para a "verdadeira negociação" em torno do Programa de Estabilidade e Crescimento. "Vamos ter um mês de Maio cheio de braços, bracinhos e brações de ferro", ironiza António Vitorino.