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​Internamentos sociais nos hospitais públicos aumentaram 11% num ano

22 mai, 2024 - 00:38 • Anabela Góis

Custos para o Estado ultrapassam os 260 milhões de euros, indica o Barómetro dos Internamentos Sociais, realizado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.

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Entre março de 2023 e março de 2024, havia 2.164 camas ocupadas por doentes em internamentos inapropriados, um aumento de 11% no espaço de um ano. Cerca de metade destes internamentos sociais deve-se à falta de vagas na Rede de Cuidados Continuados e nas residências para idosos.

De acordo com o Barómetro dos Internamentos Sociais, realizado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), em março desde ano havia 2.164 camas ocupadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) devido a internamentos sociais, ou seja, por utentes sem motivo de saúde que justifique a sua permanência em ambiente hospitalar.

Trata-se de um aumento de 11% face ao período anterior (1.955 pessoas). Onze em cada 100 camas estão ocupadas por utentes que já tiveram alta, sendo que cada doente fica em média 175 dias nesta situação. Os custos para o Estado são estimados em milhões de euros.

Xavier Barreto, presidente da APAH, sublinha que os custos não são apenas financeiros.

“Estes doentes, além de representarem um custo significativo que nós estimamos em mais de 260 milhões de euros (extrapolando o cenário para o conjunto do ano), têm um custo muito significativo para os próprios doentes, para os seus resultados em saúde e até para o funcionamento dos hospitais que muitas vezes têm os serviços de urgência sobrelotados, e doentes à espera nos corredores, à espera de uma cama onde possam ser internados”, sublinha.

“Medidas do anterior Governo não resultaram”

De acordo com este barómetro, agora divulgado, os internamentos inapropriados no Serviço Nacional de Saúde explicam-se, em grande parte, por falta de respostas quer na Rede Nacional de Cuidados Continuados, como nas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas.

“São dados decepcionantes”, diz o presidente da Associação de Administradores Hospitalares, que mostram que “as medidas do anterior Governo para resolver ou mitigar o problema não resultaram”.

Xavier Barreto receia que as metas de novas camas anunciadas não se concretizem. “O anterior Governo anunciou um alargamento da rede de cuidados continuados em cerca de 50%, no âmbito do PRR. Veremos se é possível cumprir. Nós temos alguma preocupação porque há atrasos. Esperamos que este Governo possa de alguma forma acelerar essa implementação”, acrescenta.

A situação mais preocupante verifica-se nas regiões do Norte e de Lisboa e Vale do Tejo: juntas acumulam 80% do total de internamentos inapropriados nos hospitais.

Tendo em conta o dinheiro que estes internamentos sociais custam ao erário público, Barreto Xavier defende que é necessário ponderar alternativas até porque, segundo diz, trata-se de uma questão social.

”É um fenómeno que nos interpela para discutirmos o apoio que damos às famílias, aos cuidadores informais para criarem condições para terem os seus familiares em casa. As pessoas internadas por razões inapropriadas são quase sempre pessoas idosas, da área da medicina e o que nos dizem as famílias é que se tivessem outro tipo de apoio, de cuidados domiciliários, de literacia, apoios para poderem ficar em casa a cuidar destas pessoas, que muitas vezes são os pais, provavelmente teríamos uma resposta mais lógica, mais integrada e mais coerente.”

O sexo masculino é o que regista mais dias de internamento inapropriado, com 60% dos episódios. As pessoas com mais de 65 anos continuam a registar não só o maior número de internamentos inapropriados (76%), como também ficam mais dias internados, após alta médica.

A 8.ª edição do Barómetro de Internamentos Sociais contou com a participação de 29 unidades hospitalares do SNS, num total de mais de 20 mil camas, representando 90% do total do SNS.

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  • Paula Freitas
    22 mai, 2024 Gondomar 08:07
    Está um edificio novo totalmente ao abandono em Campanha - Porto, seria um hospital privado, será que o governo não o poderia adquirir para cuidados continuados aos idosos que estão a ocupar camas nos hospitais?.

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